Valor econômico, v.20, n.4780, 27/06/2019. Política, p. A12

 

Militar preso com cocaína pode ser expulso da FAB 

Fabio Murakawa 

Carla Araújo 

Luísa Martins 

27/06/2019

 

 

Integrante da equipe de apoio ao presidente Jair Bolsonaro em viagem ao Japão, o segundo-sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues foi detido na terça-feira com 39 quilos de cocaína, em uma escala na Espanha. O militar viajava em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), mas não estava na mesma aeronave usada por Bolsonaro.A droga foi detectada quando as bagagens da tripulação passaram pelo controle alfandegário em Sevilha, na Espanha. Ao abrir a mala do militar, os agentes do aeroporto encontraram os tijolos de cocaína. Depois da prisão do sargento, a Presidência mudou a rota de viagem. O presidente iria decolar de Brasília rumo a Sevilha para a escala técnica, antes de seguir para o Japão, mas a aeronave fez a parada em Lisboa, Portugal.Ontem, o presidente em exercício Hamilton Mourão disse que o militar preso é uma "mula qualificada" e que não agiu sozinho. "É óbvio que, pela quantidade de droga que ele estava levando, que não comprou na esquina e levou, né? Ele estava trabalhando como mula. Uma mula qualificada, vamos colocar assim."Pela manhã, Mourão havia dito que o sargento viajaria junto com Bolsonaro no retorno ao Brasil. À noite, porém, mudou a versão, disse que estava errado e que o militar estaria apenas na equipe de apoio, e que "não estaria em momento algum na aeronave do presidente". Mourão afirmou que Rodrigues poderá ser expulso das Forças Armadas e procurou minimizar o desgaste do governo. "Não é preocupação do governo. Esse militar não pertence à segurança presidencial, não tem nada a ver com o núcleo de segurança do presidente e é uma questão restrita a FAB", disse.

Segundo Mourão, o oficial detido é segundo sargento taifeiro da Aeronáutica. Na hierarquia militar, a função de taifeiro está relacionada à prestação de serviços de alimentação e alojamento. No caso de um voo presidencial, teria a atribuição similar à de um comissário de bordo. O sargento preso com cocaína fez ao menos 29 viagens no Brasil e no exterior desde 2011, várias delas com o staff presidencial, e já acompanhou os ex-presidentes Michel Temer e Dilma Rousseff. O militar participou de ao menos outras três viagens com Bolsonaro ou sua comitiva.Pelo Twitter, Bolsonaro exigiu "investigação imediata e punição severa" ao militar e disse que o episódio é inaceitável. "Apesar de não ter relação com minha equipe, o episódio de ontem [terça-feira], ocorrido na Espanha, é inaceitável. Exigi investigação imediata e punição severa ao responsável pelo material entorpecente encontrado no avião da FAB. Não toleraremos tamanho desrespeito ao nosso país!", disse o presidente.

A Aeronáutica afirmou, por meio de nota, que instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar todas as circunstâncias do caso e disse repudiar o que aconteceu. "O Comando da Aeronáutica reitera que repudia atos dessa natureza, que dá prioridade para a elucidação do caso e aplicação dos regulamentos cabíveis, bem como colabora com as autoridades."O comunicado da FAB reitera, além disso, que "o militar em questão não integraria, em nenhum momento, a tripulação da aeronave presidencial". Em nota, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que acompanha Bolsonaro na viagem, negou que o sargento seja lotado no GSI e afirmou que o ministério não é responsável pela revista de bagagens e de passageiros nos aviões da Força Aérea.Meses antes do episódio, em fevereiro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, pediu uma "varredura" em convênios firmados durante o governo do PT, para verificar "a utilização de aviões oficiais para o tráfico de drogas". Um vídeo do parlamentar voltou a circular ontem, depois da prisão. Eduardo fala, no vídeo, que a prática de tráfico de drogas "com ajuda de integrantes das Forças Armadas" é "muito recorrente na Venezuela, um dos países que o PT sempre apoiou".

Outro filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), discutiu no plenário da Câmara Municipal do Rio com Tarcísio Motta (Psol) por causa do sargento.

O bate-boca começou depois que o vereador Reimont (PT) disse que não se pode responsabilizar Bolsonaro pelo episódio, mas que ele devia uma explicação. Carlos, então, pediu a palavra. "O nome da minha família mais uma vez foi citado por um vereador que pra mim é um vereador zero à esquerda literalmente, um vereador cabeça de balão", disse. Tarcísio Motta gritou pedindo respeito. Carlos retrucou: "Respeito é o cacete! Respeito quem eu quiser!" Tarcísio pediu que Carlos se recompusesse, mas ele prosseguiu: "Aquele pessoalzinho ali vai subir, vai sapatear, vai sambar, mas Bolsonaro vai continuar presidente. O ministro Sergio Moro vai continuar sendo ministro. E a esquerda vai continuar sendo detonada", disse Carlos, que encerrou chamando de novo o colega de "cabeça de balão". (Com agências noticiosas)