Valor econômico, v.20, n.4770, 12/06/2019. Brasil, p. A2

 

Exonerado, presidente da Funai critica governo 

Isadora Peron 

Cristiano Zaia 

12/06/2019

 

 

Após pressão da bancada ruralista, o general Franklimberg Ribeiro de Freitas disse ontem que foi exonerado do cargo de presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). Ele fez o anúncio durante discurso de despedida para servidores do órgão.

Freitas creditou a sua demissão ao secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura (Mapa), Luiz Antonio Nabhan Garcia, e disse que o presidente Jair Bolsonaro está sendo "muito mal assessorado" por pessoas que não entendem da causa indígena.

Segundo ele, sua exoneração seria publicada em edição extra do "Diário Oficial da União" ontem, o que não havia ocorrido até a conclusão desta edição. A exoneração, no entanto, foi confirmada ontem à noite pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que ainda comanda a Funai.

A saída ocorre no momento em que a Funai está voltando ao Ministério da Justiça, o que deve acontecer oficialmente amanhã.

A informação era que o ministro Sergio Moro não iria mudar a equipe do órgão, que estava sob o comando da pasta de Direitos Humanos, mas a demarcação de terras, que ficava com o Ministério da Agricultura sob comando de Nabhan, também voltou para a Justiça.

Na avaliação de servidores da Funai, como Moro não faz questão de ficar com órgão, o mais provável é que ele tenha aberto mão de indicar o presidente e deixou a indicação para a ala ruralista do governo.

Um dos nomes cotados para assumir o cargo é Azelene Inácio, que já foi diretora do órgão. Ela é próxima à ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Em janeiro, foi demitida de uma diretoria da Funai a pedido de Moro, por ser alvo de investigações do Ministério Público Federal.

Ao Valor Nabhan negou que tenha pedido a exoneração de Freitas, mas admite que havia uma insatisfação do setor produtivo em relação ao presidente da Funai. "Foi uma decisão do presidente Bolsonaro, mas a insatisfação do setor produtivo com o presidente da Funai era uma coisa explícita", disse.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), confirmou que a bancada ruralista se queixou da gestão de Freitas na semana passada, em reunião com Bolsonaro. A FPA já havia pedido pela saída do general em sua primeira passagem pela Funai, ainda no governo Temer.