O Estado de São Paulo, n. 45809, 20/03/2019. Internacional, p. A13

 

Resultados concretos de visita dependem de tempo

Rubens Barbosa

20/03/2019

 

 

Diferentemente da longa tradição do governo brasileiro de realizar a primeira visita de um novo presidente ao exterior na América Latina, Jair Bolsonaro visitou os Estados Unidos. Os dois governos estão dizendo que houve uma mudança fundamental na relação bilateral e a criação de um eixo norte-sul, dada a estreita relação pessoal entre os presidentes. Os fatos no futuro demonstrarão os resultados concretos da visita presidencial e se serão permanentes.

De fato, a visita resultou no avanço em várias áreas como comércio, defesa, segurança e inovação. Esses resultados, contudo, não representam um completo alinhamento com os EUA. Um exemplo disso são as posições ainda diferentes adotadas pelos dois governos em relação à saída de Nicolás Maduro na Venezuela.

O Brasil e os EUA têm uma área enorme de convergência, bem como de assimetrias. Nos últimos anos, defesa e segurança passaram a integrar os pontos focais do relacionamento por razões domésticas e regionais. As restrições na área comercial em ambos os países permanecem. Questões como o aço não foram resolvidas, tendo havido avanços na área de exportação de suínos para o Brasil, assim como foi criada uma quota de 750 mil toneladas de trigo sem tarifa para o alimento americano, segundo o comunicado conjunto publicado ao final da visita.

Foram criados ainda um fundo de investimento de US$ 100 milhões relacionado com impactos na biodiversidade, uma comissão de economia e relações comerciais para facilitação de comércio e de práticas regulatórias, e um fórum para cooperação energética.

Do ponto de vista do Brasil, foi importante o apoio do presidente Donald Trump ao pedido de ingresso na OCDE, em troca da concordância do lado brasileiro em abrir mão do tratamento especial e diferenciado no âmbito da OMC. Pela primeira vez, o Brasil aceitou a graduação de sua condição de país em desenvolvimento para fins de vantagens nas negociações comerciais. O status de aliado especial dos EUA como não membro da Otan e a assinatura do acordo de salvaguarda tecnológica representam os avanços mais significativos da visita.

Bolsonaro é o primeiro presidente brasileiro em muitos anos eleito com uma plataforma de direita e populista. É liberal na economia e muito conservador nos valores e princípios sociais. Há claras afinidades ideológicas com o presidente Trump e suas políticas, até mesmo no apoio à construção do muro na fronteira com o Mexico.

A questão ideológica é a principal diferença quando se compara Bolsonaro com outros presidentes na relação com os EUA.

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UE adverte premiê que adiamento do Brexit terá custo político e econômico

20/03/2019

REINO UNIDO

Qualquer adiamento do Brexit terá um “custo econômico e político”, advertiu ontem o negociador europeu, Michel Barnier (foto). O Reino Unido deve abandonar a União Europeia no dia 29, mas a primeiraministra britânica, Theresa May, indicou ontem que pretende enviar uma carta aos 27 membros do bloco pedindo três meses de adiamento. Todos os integrantes da UE têm de aprovar a solicitação. May decidiu pedir o adiamento depois de o presidente da Câmara dos Comuns acabar com os planos da premiê de realizar uma terceira votação sobre o acordo para o Brexit. John Bercow disse que, se o acordo não tiver nenhuma mudança, não pode entrar em votação.