Valor econômico, v.20, n.4763, 03/06/2019. Especial, p. A16

 

Para reitor da UFABC, pasta precisa dialogar sobre cortes 

Hugo Passarelli 

03/06/2019

 

 

O reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Dácio Matheus, reconhece que a situação fiscal do governo é desfavorável para as universidades, mas defende que o Ministério da Educação (MEC) seja um mediador das decisões sobre contingenciamento. "Esperamos que o MEC dialogue com a equipe econômica e não que venha [para cima] das universidades", afirma.

Depois de atingir um pico de R$ 61,5 milhões em 2013, o orçamento de custeio da UFABC vem caindo continuamente e somou R$ 49,5 milhões em 2018. Para este ano, a cifra prevista era de R$ 51,4 milhões, mas quase 30% disso, ou R$ 15,4 milhões, foi contingenciado pelo governo.

O reitor alerta que a margem para enxugar os custos está ficando cada vez mais estreita. "Em 2016, nós tínhamos 20 vigilantes; hoje, são cinco, para um campus de 140 mil metros quadrados [em Santo André, sede da reitoria]. Dá para cortar mais? Eu não vejo como sem colocar em risco o patrimônio público", diz.

Historicamente, a UFABC tem consumido praticamente todo o orçamento liberado a cada ano, diz Matheus. "É um sinal de que precisamos de mais porque, na verdade, gastamos todo o nosso orçamento nas atividades corriqueiras, o que nos inibe em desenvolvimento institucional e acadêmico", afirma.

Criada em 2006, na primeira leva de expansão do ensino superior público, ainda no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a UFABC é a federal mais jovem do Estado de São Paulo. Também no mesmo período, a Unifesp, fundada em 1933 com foco na área de saúde, começou a abrir novos campus em outras cidades da região metropolitana e na Baixada Santista.

Diante do cenário de restrição fiscal, a UFABC tem pisado no freio em alguns de seus planos, mas tem algumas iniciativas pendentes que precisam de solução em breve, incluindo a conclusão de um prédio para abrigar laboratórios para os cursos de engenharia, que está com 30% de sua construção concluída. A universidade possui verba, proveniente de restos a pagar de 2018, para executar mais 25% do projeto, totalizando 55% do previsto.

Segundo o reitor, também está na fila um microscópio eletrônico de transmissão, de R$ 4 milhões, já adquirido, mas ainda não retirado do fornecedor porque a universidade não tem local para guardá-lo. O custo da nova sala é de R$ 400 mil e, por ora, esse recurso está bloqueado.

A verba aprovada para investimento na UFABC foi de R$ 2 milhões em 2019, dos quais R$ 577 mil estão contingenciados. No ano passado, foram destinados R$ 4,8 milhões para essa finalidade, de R$ 30 milhões em 2017. Desde 2018, o MEC analisa projeto por projeto das universidades em vez de liberar de uma vez os recursos para investimentos.

"Há uma discussão de racionalidade, mas sem dúvida nenhuma perdemos absolutamente a autonomia em relação ao que tínhamos planejado com relação ao investimento. Isso tem um impacto enorme nas novas universidades que ainda têm obras em andamento", afirma.

Apesar da necessidade de reforçar o caixa, o reitor da UFABC discorda da visão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que intensificar a captação de recursos com o setor privado é uma das soluções para sanear o orçamento das federais. "A empresa privada paga investimentos mais específicos para um projeto, mas ela não paga minha conta de água ou luz", afirma. Segundo ele, a UFABC captou R$ 20 milhões com parcerias e convênios com empresas em 2018.

Um dos projetos nesse sentido é o doutorado acadêmico industrial. "Colocamos um doutor discutindo um problema a ser resolvido dentro das empresas. Já temos patentes sendo geradas a partir desse projeto", diz.