O Estado de São Paulo, n. 45808, 19/03/2019. Internacional, p. A10

 

Bolsonaro destaca a capacidade bélica dos EUA para 'libertar a Venezuela'

Beatriz Bulla

Ricardo Leopoldo

19/03/2019

 

 

Cerco ao chavismo. Em discurso em Washington, presidente brasileiro menciona apoio americano para resolver crise no país vizinho; em seguida, porta-voz do Planalto esclarece que intervenção militar está descartada e solução ainda é pela via diplomática

Blair House. Jair Bolsonaro grava entrevista para a TV Fox News: presidente diz que americanos sempre o inspiraram

Em discurso a empresários, o presidente Jair Bolsonaro fez ontem críticas ao “antiamericanismo” de governos brasileiros anteriores e falou em reconhecer a “capacidade bélica” dos EUA para resolver a crise na Venezuela, sugerindo uma intervenção militar no país. Em seguida, o portavoz do governo, general Otávio Rêgo Barros, minimizou a fala e disse que o “Brasil entende que a situação deve ser resolvida com diplomacia”.

“Temos alguns assuntos que estamos trabalhando em conjunto, reconhecendo a capacidade econômica, bélica dos EUA. Temos de resolver a questão da Venezuela. A Venezuela não pode continuar da maneira que se encontra, aquele povo tem de ser libertado. Contamos com apoio americano para que esse objetivo seja alcançado”, afirmou Bolsonaro, na Câmara de Comércio dos EUA.

Logo depois, questionado se o Brasil apoiaria uma eventual intervenção militar dos EUA na Venezuela, como Bolsonaro deu a entender, Rêgo Barros foi obrigado a esclarecer a declaração. “O Brasil entende que a situação da Venezuela deva ser resolvida com base na nossa diplomacia. Não trabalhamos com intervenção, até porque afronta nossa Carta Magna.”

A Venezuela enfrenta uma profunda crise política, econômica e social. Brasil e EUA estão entre os mais de 50 países que não reconhecem a legitimidade do governo do presidente chavista, Nicolás Maduro, e consideram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino do país.

Bolsonaro tem mostrado que está alinhado com o governo de Donald Trump sobre a Venezuela. No entanto, o vice-presidente Hamilton Mourão já afirmou que o País não trabalha com a hipótese de uma ação militar, enquanto Trump faz questão de deixar a possibilidade em aberto.

A Casa Branca conta agora com o trabalho dos militares brasileiros na interlocução com militares venezuelanos para aumentar a pressão sobre Nicolás Maduro. A mensagem é de um funcionário do alto escalão dos EUA, um dia antes do encontro entre Bolsonaro e Trump. “Os militares brasileiros têm boa relação com os venezuelanos”, afirmou o funcionário. Segundo ele, a interlocução pode evitar a repressão a civis que se rebelem contra Maduro.

No discurso de ontem, Bolsonaro falou da parceria que quer estabelecer com os EUA e criticou governos anteriores do Brasil. O presidente também disse que há dois anos vem sofrendo ataques das “fake news” e traçou um paralelo com o presidente dos EUA, Donald Trump, que aponta que vários meios de comunicação não realizam uma cobertura justa de seu governo nos EUA. Hoje, Bolsonaro se reúne com Trump na Casa Branca. Além da questão venezuelana, os dois devem discutir a influência chinesa na América Latina, um tema sensível para os EUA.

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“Temos alguns assuntos que estamos trabalhando em conjunto, reconhecendo a capacidade econômica, bélica dos EUA. Temos de resolver a questão da Venezuela. A Venezuela não pode continuar da maneira que se encontra, aquele povo tem de ser libertado”

Jair Bolsonaro

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