Valor econômico, v.20 , n. 4771 , 13/06/2019. Brasil, p. A2

 

Para assumir embaixada nos EUA, Forster 'fura fila' de 43 no Itamaraty.

Daniel Rittner

13/06/2019

 

O diplomata Nestor Forster Jr., nome preferido do chanceler Ernesto Araújo para assumir a embaixada do Brasil em Washington, deve deixar para trás 43 colegas e criar um mal-estar no Itamaraty. Está para sair, nos próximos dias, a lista semestral de promoções da carreira. Há apenas sete vagas para novos embaixadores. Araújo já elaborou uma lista prévia de escolhidos e teve reunião com o presidente Jair Bolsonaro, ontem à tarde, para encaminhar essa seleção final.

O "quadro de acesso", que relaciona ministros de segunda classe (um degrau abaixo de embaixadores na hierarquia diplomática) habilitados à promoção, tem 44 nomes. Forster é o último deles. Os diplomatas entram no quadro de acesso por merecimento e são "ranqueados" por antiguidade na lista. Nada obriga o presidente da República a promover os mais antigos, mas grandes saltos na ordem são chamados pejorativamente de "carona" e provocam frisson no Itamaraty.

A aposta praticamente consensual entre os diplomatas é que Araújo pretende contemplar seus auxiliares mais próximos na lista de promovidos. Entre eles, estariam Márcia Donner Abreu (atual secretária de Comunicação e Cultura e 4ª no quadro de acesso), Pedro Wollny (chefe de gabinete do ministro e 28º), Fabio Marzano (secretário de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania e 29º) e Kenneth Félix da Nóbrega (secretário de Oriente Médio, Europa e África, relacionado em 42º).

De todos eles, é Forster quem causa maior polêmica. Não só por ser o mais recente no quadro de acesso, mas porque a promoção seria pré-requisito para ele ser indicado por Bolsonaro para chefiar a embaixada em Washington, posto mais cobiçado da diplomacia brasileira no exterior.

Tido como "conservador raiz" e próximo do escritor Olavo de Carvalho, Forster foi responsável pela aproximação do atual chanceler com ele quando Araújo escreveu um artigo dizendo que "só [Donald] Trump pode salvar o Ocidente". Seus defensores afirmam que, discordando frontalmente das políticas do PT, preferiu submergir em funções menos visíveis nos governos Lula e Dilma Rousseff. Foi cônsul-adjunto em Hartford (EUA) e chefe da divisão de informática do Itamaraty, por exemplo, que não são exatamente cargos concorridos.

"Mas ele é bem mais do que isso", defende um diplomata que já trabalhou com Forster, citando sua experiência na negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e no contencioso Embraer-Bombardier. Na visita de Bolsonaro a Washington, em março, ele exerceu protagonismo nos preparativos. Comenta-se no ministério, inclusive, que foi Forster, e não o então embaixador Sérgio Amaral, quem se responsabilizou por escolher os convidados e organizar um dos pontos altos da visita: a "Santa Ceia da Direita", como foi chamado o jantar do presidente com expoentes do conservadorismo americano como Steve Bannon.

Forster tem pela frente, entretanto, pelo menos dois concorrentes na disputa pela embaixada. O cientista político Murillo de Aragão, dono da consultoria Arko Advice, é defendido por boa parte da ala militar do governo e tem no vice-presidente Hamilton Mourão um de seus maiores entusiastas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também gostaria de ver Aragão em Washington. Ele acredita que o consultor tem conhecimento amplo sobre as reformas econômicas, traquejo com políticos e outras qualidades desejáveis para um posto como esse. Guedes já confidenciou a interlocutores, porém, que não pretende se dedicar ao lobby por Aragão no Palácio do Planalto.

Corre por fora o atual cônsul-geral em São Francisco, Pedro Bório, ex-assessor parlamentar do Itamaraty. Ele tem a simpatia de vários deputados e senadores. Há poucas semanas, foi pessoalmente buscar apoio no gabinete do presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Muitos parlamentares atribuem ao interesse em apadrinhar Bório o atraso do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em ler formalmente as mensagens de indicações de embaixadores feitas por Jair Bolsonaro.