Título: Legião de ressentidos na campanha de Haddad
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2012, Política, p. 4

Deputados paulistas do PT na Câmara criticam a falta de coordenação dos trabalhos na disputa pela prefeitura paulistana. Candidatos a vereador reclamam da escassez de recursos

Como se não bastasse a decepção diante do resultado da última pesquisa eleitoral, que apontou a queda de Fernando Haddad (PT) e uma ligeira ascensão de José Serra (PSDB) — os petistas apostavam na manutenção do empate técnico entre ambos —, o comando de campanha do candidato do PT à prefeitura de São Paulo começa a ser questionado pela base de deputados federais e pelos candidatos a vereador. A bancada do partido no Congresso ressente-se da "falta de missão" na campanha. Já os candidatos a vereador reclamam do baixo repasse de verbas para as campanhas.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que 13 dos 74 candidatos a vereador pelo PT não registraram, até o momento, o recebimento de nenhum centavo nesse período de disputa eleitoral. Segundo o TSE, até 6 de setembro (quando foi divulgada a segunda prestação parcial de contas), a campanha de Haddad havia arrecadado R$ 10,1 milhões e gastado R$ 16,5 milhões. "Campanha é assim mesmo, nem sempre o dinheiro pinga no dia em que o candidato espera", afirmou o presidente do diretório municipal do PT paulistano, Antonio Donato.

A outra queixa é de uma "descoordenação" entre o comando da campanha e os deputados federais. Embora todos ainda mantenham a esperança em uma arrancada final que garanta Haddad no segundo turno, os problemas não são escondidos pelos parlamentares. "Outro dia, estava em um comício e peguei o microfone para falar, porque gosto de falar. Depois, ninguém me pediu nada específico. A gente fica meio sem função na campanha", diz o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).

Por uma questão de comodidade, Tatto também ficou de fora da foto oficial do almoço. Encontrou um amigo petista que estava em uma mesa longe do camarote oficial. Ficou por lá. "Ao lado do Haddad e do Lula, estavam os governadores aliados. Se eu fosse para lá, ficaria na ponta da mesa. Acabei ficando lá embaixo mesmo", disse ele ao Correio.

Um dos petistas mais próximos a Lula, o deputado Devanir Ribeiro (SP) reclamou que não está sendo avisado da agenda de Haddad. Na semana que passou, o candidato do PT esteve em Sapopemba, reduto eleitoral de Devanir. "Ninguém me avisou, não ia aparecer por lá se não fui convidado", declarou. "Você tem um monte de gente que poderia ajudar. Podia-se dividir os grupos, uns para falar com os médicos, outros com os advogados, e por aí vai", sugeriu.

Devanir disse também que o fato de os três principais coordenadores da campanha — Antonio Donato, José Américo e Chico Macena — estarem concorrendo à reeleição para a Câmara Municipal pode estar confundindo os trabalhos. "É natural que eles se dividam entre organizar as coisas e pensar na própria eleição", acrescentou Devanir.

Donato afirmou que todos os deputado federais têm assento no Conselho Político da campanha de Haddad. "Muitos também tem assessores diretamente ligados às decisões centrais, não podem dizer que estão alheios", reclamou ao Correio. Sobre a agenda, o presidente do PT paulistano admite as dificuldades, mas acrescenta que sempre há o esforço para envolver todos nos eventos públicos. "São comuns, em todas as campanhas, mudanças de agendas e remarcação de eventos para gravação dos programas. Temos uma responsável por essa área que não é candidata a nada justamente para ficar concentrada só nisso."

Agenda de Lula Enquanto tenta melhorar o desempenho do afilhado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará entre este sábado e a segunda-feira uma série de comícios no ABC paulista. Hoje, Lula deve estar em São Bernardo do Campo para prestigiar o atual prefeito, Luiz Marinho. Amanhã, a previsão é que ele vá para Santo André, ao lado do petista Carlos Grana e Diadema, apoiar a reeleição de Mário Reali. E na segunda, a depender da condição física após essa maratona, vai a Mauá declarar apoio a Donizete Braga.

Tucano perde o sapato e o pênalti Palmeirense convicto, o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, demonstrou ontem que suas habilidades futebolísticas estão compatíveis com o inferno astral vivido pelo Palmeiras — que amarga a vice-lanterna do Campeonato Brasileiro e está ameaçado de rebaixamento. Durante visita a crianças carentes atendidas por um projeto da prefeitura em Ermelino Matarazzo, Zona Leste paulistana, Serra resolveu bater um pênalti. O resultado: perdeu o sapato — que foi parar atrás do gol —, ficou só de meia no chão enlameado e ainda viu o goleiro-mirim defender a bola chutada por ele. Para minimizar o vexame e manter o tom de brincadeira, o tucano assegurou que a bola entrou no gol e atravessou a rede. Na segunda tentativa, ele marcou, mas não escapou da gozação do goleiro, que afirmou ter deixado a bola entrar.