Título: Rigor e velocidade na apuração do caso Abin
Autor: Valadares, João; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2012, Política, p. 6
Violação de senhas de agentes do serviço de inteligência recebe tratamento prioritário do Palácio do Planalto
O governo está tratando como prioridade as investigações do caso revelado pelo Correio de arapongagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o episódio causou surpresa, mas está sendo investigado com "o máximo rigor e velocidade". A Polícia Federal informou que a investigação deve ser concluída em, no máximo, um mês. O oficial técnico de inteligência W.T.N, de 35 anos, foi preso em flagrante pela PF ao violar 238 senhas de servidores da própria agência.
"Isso é uma determinação de governo, ou seja, é uma situação que obviamente exige investigação com rapidez", disse Cardozo. O pedido de urgência foi feito por intermédio do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general José Elito, ao qual a Abin está subordinada. "O próprio ministro pediu à Polícia Federal que tomasse todas as providências. Portanto, estamos fazendo dentro daquilo que a lei manda, mas investigando com o máximo rigor e velocidade", explicou Cardozo. Apesar de evitar fazer comentários devido à investigação correr em segredo de Justiça, ele garantiu que a PF tem pressa para descobrir para que serviriam os dados roubados. "O que eu posso dizer é que é uma investigação que nós pedimos prioridade. Pedimos que, com rapidez, se buscasse entender o que aconteceu nesse episódio", disse o ministro.
Ainda assim, existe um silêncio em torno do caso no Palácio do Planalto. Procurado após cerimônia na manhã de ontem, o ministro-chefe do GSI ignorou as perguntas da reportagem. A Polícia Federal comunicou que o automóvel do espião já foi periciado. Os investigadores, agora, concentram-se na análise dos dados do computador utilizado pelo infiltrado. O celular dele também foi apreendido. No momento da prisão, na sexta-feira passada, o araponga confirmou que tinha acessado as informações. No entanto, salientou que não havia repassado os dados a ninguém.
O espião W.T.N. foi empossado recentemente na Abin e ainda estava em estágio probatório. A PF ressalta que "foi acionada pela Direção-Geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na tarde da última sexta-feira, informando que um servidor daquele órgão estava acessando informações sigilosas restritas que não poderiam ser divulgadas a terceiros. Uma equipe de policiais federais compareceu à sede da Abin no mesmo dia e verificou a ocorrência de flagrante de possível violação de sigilo funcional, tendo em vista que o acesso daquelas informações era restrito", diz a nota.
Além do inquérito instaurado na Polícia Federal, a Corregedoria-Geral da autarquia instaurou processo administrativo disciplinar para dar seguimento às medidas administrativas cabíveis. O servidor foi enquadrado por violação de sigilo funcional, crime previsto no Artigo 325 do Código Penal, com pena de seis meses a dois anos de detenção ou multa.
"O que eu posso dizer é que é uma investigação que nós pedimos prioridade, que se buscasse entender o que aconteceu nesse episódio" José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça