O Estado de São Paulo, n. 45807, 18/03/2019. Política p. A8

 

Planalto 'testa' desempenho da primeira-dama

Julia Lindner

18/03/2019

 

 

COMUNICAÇÃO / Michelle promove eventos de entidades sociais, em esforço para apagar imagem ‘machista’ do governo

Social. Michelle Bolsonaro posa com portadora de doença rara em evento no mês passado

 De forma sutil, a primeira-dama Michelle Bolsonaro começa a desempenhar o papel de aproximar o governo do marido, Jair Bolsonaro, de entidades sociais. A fase é de testes. Na semana passada, ela esteve em quatro eventos para promover ações de entidades que cuidam de pessoas com doenças raras e deficiências. Mas evitou acionar a máquina de publicidade do Planalto. A equipe de cerimonial do palácio não fez até agora objeções à postura e aos movimentos da mulher do presidente.

Michelle não viajou com Bolsonaro a Washington. Ela estará, no entanto, na comitiva do presidente a Santiago, no Chile no fim da semana.

Um dos próximos desafios da primeira-dama será um leilão de dez vestidos, dois deles costurados pela estilista Marie Lafayette, que custam pelo menos R$ 4 mil. O pregão vai incluir o branco fluído com detalhes em renda e cristais usado no casamento com Bolsonaro em 2013 e o rosé acetinado da posse. Foi depois de o presidente receber a faixa no parlatório do palácio que a primeira-dama fez um discurso em Libras, a Língua Brasileira de Sinais. A iniciativa arrancou aplausos da multidão na Praça dos Três Poderes e empolgou aliados do governo, preocupados com a imagem “machista” do presidente.

Ela sinalizou que não pretende entrar na disputa por cadeiras, mesas e cargos no palácio. Por enquanto, apenas ajudantes de ordem, entre eles, uma capitã do Exército, acompanham a primeira-dama em deslocamentos pela capital federal.

Michelle não quis também ocupar a sala que antes era de Marcela Temer, mulher do expresidente Michel Temer. O espaço virou gabinete do assessor Célio Faria Júnior, que comanda um grupo que atua nas redes sociais do presidente. Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, morta em 2017, chegou a desalojar Frei Betto, ligado à família, de uma sala próxima do gabinete presidencial, no terceiro andar.

 Atuação. A internação prolongada do presidente, no Hospital Albert Einstein, entre janeiro e fevereiro, a reestruturação do governo e a própria adaptação da família ao Palácio da Alvorada tornaram mais lentas as investidas de Michelle junto a grupos ligados ao atendimento de deficientes físicos e pessoas com doenças raras.

A primeira agenda pública de Michelle como primeira-dama, no fim de fevereiro, foi uma sessão no plenário da Câmara para discutir doenças raras. Na cerimônia, discursou por menos de cinco minutos, posou para fotos e conversou com alguns convidados, entre eles, Graça Goltara, mãe de Isabella, que é portadora da síndrome de cri-du-chat. Graça conheceu a primeira-dama no fim do ano passado, quando viajou cerca de oito horas de Vitória ao Rio de Janeiro até a casa dos Bolsonaro, na Barra da Tijuca, para apresentar a filha.

Após o encontro, Michelle convidou as duas para irem a Brasília. “Sou muito grata a ela porque já bati na porta de muita gente e nunca fui atendida. Minha intenção é divulgar essa doença”, disse Graça.

Além dos eventos, Michelle tem mantido reuniões com os ministros da Cidadania, Osmar Terra, da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Uma delas ocorreu no gabinete de Bolsonaro.

Evangélica, Michelle não deu sinais até agora se pretende ajudar na interlocução do presidente com a bancada da Bíblia, que tem demonstrado insatisfação com o governo. Na semana passada, setores no Congresso viram a influência da primeira-dama na indicação de Iolene Lima, ligada à igreja que Michelle frequenta, para assumir a secretaria executiva do Ministério da Educação . A bancada evangélica, no entanto, buscou se desvencilhar da nomeação de Iolene para o cargo.

 Gratidão

“Sou muito grata a ela (a primeira-dama Michelle Bolsonaro) porque já bati na porta de muita gente e nunca fui atendida. Minha intenção é divulgar essa doença (síndrome de cri-du-chat).”

Graça Goltara

MÃE DE ISABELLA, QUE É PORTADORA DA SÍNDROME DE CRI-DU-CHAT