Título: Renda dos pobres tem maior alta
Autor: Nunes, Vicente; Martins, Victor; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2012, Economia, p. 12

Aumento foi de 29,2% entre 2009 e 2011. Na média, população ganhou 8,3% mais

A forte retomada da economia brasileira, sobretudo em 2010, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5%, provocou grandes mudanças no Brasil — para melhor. Puxado pelo salário mínimo, o rendimento médio mensal dos 10% dos trabalhadores que ganham menos aumentou 29,2% acima da inflação nos dois últimos anos, quase quatro vezes mais que os 8,3% de ganho computado pela massa geral de assalariados. Com isso, a renda média do trabalhador atingiu R$ 1.345 no fim de 2011, fundamental para manter o processo de redução das desigualdades no país.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Gini, que mede a concentração de renda, caiu de 0,518 em 2009 para 0,501 no ano passado — quanto mais distante esse indicador for de um, melhor. Em meio à crise que solapa o mundo e surrupia benefícios sociais, especialmente na Europa, o Brasil foi um dos poucos países em que o fosso que separa ricos e pobres diminuiu. Gerente responsável pela Pnad, Maria Lucia Vieira ressaltou, porém, que, apesar de todos os avanços, há indicadores que são motivo de grande preocupação, a começar pela evasão de jovens entre 15 e 17 anos da escola. São eles os futuros trabalhadores que vão mover a economia do país.

Nos dois últimos anos, quase uma Brasília e meia, exatos 3,6 milhões de brasileiros, foram incorporados ao mercado de trabalho, e a taxa de desemprego caiu ao menor nível desde 1996: 6,7%. Mas conseguir uma colocação continua sendo um tormento para mulheres, jovens entre 18 e 24 anos de idade e negros e pardos. Entre as trabalhadoras, mesmo com mais tempo de estudo, os salários médios representam apenas 70,4% do rendimento pago aos homens.

O Brasil conseguiu reduzir o analfabetismo, mas ainda existem 12,9 milhões de pessoas não sabem ler e escrever. Desse contigente, 96,1% têm 25 anos ou mais. "Esse retrato de contradições mostra que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Mas nada será mais importante para o país se livrar do atraso do que a melhora do nível de educação", diz o professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios. Sem essa consciência, o risco de ficar no meio do percurso é enorme.