Título: Qualificação para ampliar consumo
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2012, Economia, p. 13

População busca preparo para aumentar renda e ter acesso a novos bens, mas defasagem na comparação global persiste: país é 84º no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano

O pedreiro Aílton Alves Miranda, 37 anos, não esconde suas ambições: terminar as obras da sonhada casa própria e comprar um carro. Para isso, não mede esforços. Depois da longa jornada de trabalho, vai para uma escola técnica, onde aprimora os conhecimentos. Quer se transformar em um mestre de obras, função que pode quadruplicar o seu rendimento atual: de R$ 2 mil para R$ 8 mil. "Comigo é assim: só quero melhorar na vida", diz.

O esforço tem valido a pena. Nos últimos dois anos, depois de aprimorar o trabalho buscando o conhecimento técnico, consegui aumentar a sua diária de R$ 80 para R$ 100. Com o dinheiro, comprou um computador de "última geração", assinou uma tevê a cabo, paga o transporte escolar dos dois filhos e amplia o espaço da casa, "tijolo por tijolo". Morador de Ceilândia, Aílton se diz o retrato mais fiel da nova classe média que está salvando o Brasil da crise.

Como o pedreiro, a maior parte das famílias está ampliando a renda. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio dos lares cresceu 8,3% acima da inflação, atingido R$ 2.419 mensais — um recorde. Esse avanço na renda, porém, está longe de garantir o bem-estar da maioria da população. Pelos dados do Banco Mundial, o Brasil ainda ocupa a 84ª posição no ranking de desenvolvimento humano, atrás de Equador, Peru e Jamaica.

Para a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, mesmo com todos os percalços, o país está na direção correta ao optar por um modelo de desenvolvimento que concilia crescimento econômico e inclusão social. "A desigualdade de renda entre ricos e pobres tem diminuído de forma sistemática na última década e, com ela, as desigualdades regionais", argumenta. "A Pnad ajuda a comprovar que a população pobre trabalha e quer melhores oportunidades. O efeito "preguiça" atribuído ao Bolsa Família (que beneficia 11 milhões de lares) é um mito", afirmou.