Título: Brasiliense migra
Autor: Martins, Victor; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2012, Economia, p. 14

Dos nascidos aqui, 26% saíram atrás de empregos que só existem em outras cidades, e metade da população residente veio de fora

Apesar de ser um oásis para trabalhadores em busca de renda elevada e estabilidade, Brasília também envia grande parte dos que nascem aqui para outros lugares. São milhares de brasilienses, 25,71% dos que nasceram na cidade, a sair do Distrito Federal em busca de oportunidades de trabalho que não existem no Planalto Central. O índice é semelhante ao de regiões arrasadas pela seca, como a Paraíba, onde 29,05% migraram em busca de emprego; no Piauí, o segundo lugar do ranking, a taxa é de 27,30%. Ao mesmo tempo que manda muitos dos seus "filhos" para fora, o DF é a unidade da Federação que mais recebe gente de fora: 49,57% da população é de outros lugares. Juntando as duas coisas, Brasília tem a terceira maior taxa de migração do país.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo especialistas, apesar do número alto de brasilienses deixando o lugar onde nasceram, o motivo da migração não é o mesmo de estados do Nordeste. Enquanto na Paraíba, Piauí ou Ceará muitos fogem da seca e da pobreza, em Brasília a saída é de mão de obra qualificada. Como a cidade funciona mais como centro administrativo, alguns campos de trabalho oferecem poucas oportunidades, a exemplo da geologia. A Universidade de Brasília (UnB) forma todos os anos dezenas de profissionais, mas eles precisam abandonar a cidade para trabalhar para a Petrobras, Vale e outras empresas. O professor de Economia do Insper, Otto Nogami, avalia que esse fluxo de brasilienses para outros estados é resultado do esgotamento da oferta de trabalho no DF para os mais qualificados.

Esse quadro, de mão de obra qualificada deixando a cidade e de gente em busca do sonho de uma vida melhor chegando, é confirmado quando se olha o contingente de quatro mil trabalhadores no estádio Mané Garrincha. A maioria veio de outros estados, principalmente do Nordeste, e tem poucos anos de estudo. É o caso da pernambucana Vilma Lúcia de Oliveira, 36 anos, está em Brasília há sete meses. Natural de Afogados da Engazeira, próximo a Recife, ela trabalha na organização e limpeza das obras há dois meses. Estudou apenas parte do fundamental. "Eu quero concluir os meus estudos e até, quem sabe, fazer uma faculdade", revela.