Título: Educação ainda preocupa
Autor: D'Angelo, Ana; Castro, Grasielle
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2012, Economia, p. 15

Apesar dos avanços, muitos brasileiros ainda não conseguem terminar o ensino fundamental. Proporção de jovens no ensino médio diminui

Renda maior, desemprego menor, mais famílias com acesso à casa própria, à geladeira e à internet. Tudo isso seria motivo de comemoração, não fosse o fato de a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011 revelar uma péssima notícia: caiu a quantidade de alunos entre 15 e 17 anos na escola desde 2009, de 85,2% para 83,7%. Isso significa que menos jovens estão completando o ensino médio. Só não houve queda na Região Centro-Oeste.

Ao mesmo tempo, a proporção de jovens ocupados no país também diminuiu em relação a 2009. O Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) admite que podem ser os mesmos que deixaram o colégio antes de concluir o ensino médio. "Não conseguimos apurar exatamente a causa da saída do mercado de trabalho, mas a princípio eles não trabalham e não estudam", diz a gerente da Pnad, Maria Lúcia Vieira. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, reconheceu ontem que o maior problema na área de educação hoje é o ensino médio.

Os outros indicadores de educação melhoraram entre 2009 e 2011: a taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais caiu de 9,7% para 8,6%, a taxa de escolarização das crianças entre 6 e 14 anos aumentou 0,6% e já atinge quase a totalidade delas, 98,5%. Há cada vez mais brasileiros cursando ensino superior, e a quantidade média de anos de estudo subiu para 7,3 anos. O problema é que esse ritmo de melhora está lento, apontam os especialistas. Em 2009, a média de período de estudo de cada brasileiro era de 7,2 anos. Ou seja, o indicador avançou apenas 0,1 ponto percentual em três anos.

Entre os adultos acima de 25 anos, essa média está em 7,7 anos, o que revela que os brasileiros não completam sequer o ensino fundamental. O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, alerta que, nesse ritmo, o Brasil chegará a 2040 com uma população majoritariamente adulta com baixa escolarização. Isso será fatal para o desenvolvimento econômico da nação. "Seremos um país de adultos mal escolarizados, o que trará fortes prejuízos em termos de capacidade produtiva", lamenta Cara.

Analfabetismo Embora esteja mais escolarizado, o Brasil também não conseguirá cumprir metas determinadas anos atrás, como a erradicação do analfabetismo, prorrogada diversas vezes. Ainda existem 12,9 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever. A maior parte está no Norte e no Nordeste e entre os brasileiros mais velhos — acima de 40 anos. Em 2009, eram 14,1 milhões. Agora, espera-se que a erradicação seja atingida nos próximos dez anos, conforme estabeleceu o Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em junho pelo Congresso.

Para Maria Helena Guimarães, coordenadora da Associação Parceiros da Educação e integrante do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, o que mais preocupa são as pessoas analfabetas com idade entre 15 e 39 anos. No Sul, o índice de analfabetismo na faixa de 25 a 29 anos é de 1%, enquanto no Nordeste chega a 5,9%.

Com os indicadores apontados pela Pnad, o país também dificilmente cumprirá a Emenda Constitucional 59, de novembro de 2009 que determina que, a partir de 2016, não poderá haver um jovem entre 4 e 17 anos fora da escola. "O Brasil está distante de cumprir as metas na área de educação. O último Censo do IBGE revelou redução nas matrículas de ensino médio. Só que deveriam ter sido criadas 500 mil vagas", afirma Daniel Cara.