Valor econômico, v. 20 , n. 4778, 25/06/2019. Empresas, p. B1

 

Turbinas gigantes ganham mercado de geração eólica

Camila Maia​

25/06/2019

 

 

 Recorte capturado

 

As maiores fabricantes de aerogeradores de energia eólica do mundo estão trazendo para o Brasil novas máquinas maiores e mais potentes, com o dobro da potência instalada das em operação hoje no país. A decisão não é uma aposta na recuperação da demanda por energia no curto prazo, mas uma resposta ao aumento da competição no setor, justamente pela redução do consumo.

Hoje, há cerca de 15 gigawatts (GW) em operação no país, o que representa aproximadamente 9% da matriz energética, mas há poucos contratos futuros em execução devido ao momento ruim da economia. Há quase três anos, o cancelamento inesperado de um leilão motivou os fabricantes a ameaçarem deixar o país, diante da baixa previsibilidade de novos contratos. O consumo de energia se manteve em baixa, e o que se seguiu, contudo, foi o oposto do prometido. Máquinas maiores e mais eficientes serão fabricadas agora em território brasileiro.

A estratégia das fabricantes é usar isso como diferencial para disputar novos contratos e evitar fábricas vazias e com capacidade ociosa nos próximos anos.

"As novas máquinas têm basicamente a intenção de melhorar a competitividade do aerogerador, que vai gerar mais energia a um custo menor", disse João Paulo Gualberto da Silva, diretor de novas energias da WEG. A brasileira, que tem sofrido com a falta de novas encomendas em energia eólica, lançou no mês passado um novo aerogerador com 4 megawatts (MW) de potência e 147 metros de diâmetro das pás (rotor). O custo dos novos equipamentos é mais alto, mas o ganho em potência é maior. "Você tem um ganho proporcional de mais ou menos 30% na geração", informa Gualberto.

As condições dos ventos do Nordeste brasileiro são extremamente favoráveis para os aerogeradores mais altos, que chegam a 250 metros de altura considerando as estruturas completas e as pás. A proximidade com a linha do Equador cria ventos estáveis e unidirecionais. Assim, o fator de capacidade (termo técnico para a produção efetiva da usina em relação à sua capacidade instalada) na região muitas vezes ultrapassa os 50%. Na Europa, essa faixa costuma ficar abaixo de 30%.

As empresas relatam que, ajudadas pelos "bons ventos", as novas turbinas já têm encontrado boa aceitação no mercado. A dinamarquesa Vestas anunciou em outubro do ano passado que começaria a produzir em sua fábrica no Ceará novos aerogeradores com 4,2 megawatts (MW) de potência, mais que o dobro das fabricadas até então, de 2 MW. "O casamento da nossa turbina com a condição brasileira foi tão bom que quando completamos sete meses [do anúncio] já tínhamos assinado mil MW em contratos", disse Rogério Zampronha, presidente da Vestas no Brasil.

Como a demanda dos leilões de geração depende de uma perspectiva de crescimento da economia, a expansão da fonte eólica tem se baseado mais em projetos voltados para o mercado livre desde o último ano. Os empreendimentos, porém, não representam consumo "novo" de energia, mas um movimento generalizado na indústria que busca trocar fontes convencionais de energia por fontes renováveis. "A troca da matriz vai dar uma movimentada boa na éolica. Mas sabemos que o Brasil vai precisar de nova energia no futuro, e energia em larga escala viabilizada no curto prazo é só a eólica", disse David Lobo, diretor comercial e porta-voz da Nordex no Brasil. A fabricante está trabalhando com novas turbinas de 5,1 MW a 5,5 MW.

"Independentemente do crescimento da demanda em leilões, vemos uma atividade importante no mercado livre, na qual consumidores querem cada vez mais energia renovável", disse Julio Friedmann, líder comercial de eólica onshore da GE Renewable Energy na América Latina. O Brasil será um dos primeiros mercados a receber uma turbina de 5,3 MW. "É um mercado muito desenvolvido e sofisticado e capaz de prover sempre boa visibilidade para investimentos em eólica", completou o executivo da GE.

Segundo Zampronha, a tecnologia para turbinas de maior porte já existe, mas é mais comum seu uso em parques eólicos offshore. "Não há limitação tecnológica para turbinas de 6 MW, 7 MW, porque elas já existem", disse. A logística, porém, é um obstáculo importante. "Levar uma turbina do Ceará para o interior da Bahia é como transportar de um país a outro. O desafio é grande porque as condições de transporte são complexas", apontou Zampronha.

Outro desafio é a adaptação da cadeia de suprimento local. As fabricantes têm trabalhando para dar apoio aos parceiros para que se adequem às exigências tecnológicas dos novos equipamentos. "As novas máquinas são tecnologicamente mais sofisticadas e já fica mais difícil encontrar fornecedores na indústria que consigam dar conta da complexidade", disse o presidente da Vestas.