Valor econômico, v.20, n.4785, 04/07/2019. Empresas, p. B5

 

Siderurgia prevê fraca demanda no ano 

Ana Paula Machado 

Ivo Ribeiro 

04/07/2019

 

 

Com a economia em compasso de espera neste ano, as empresas do setor siderúrgico brasileiro já não veem melhora no cenário neste semestre. O presidente do conselho do Instituto Aço Brasil, Sérgio Leite, disse ao Valor que não vê uma recuperação mais sustentável dos mercados na segunda metade do ano.

"Este ano se a economia crescer 0,5% é um bom resultado. Os mercados estão contraídos e não puxam a demanda por aço. Hoje, operamos com nível de ociosidade alta", afirmou Leite.

De acordo com dados do Aço Brasil, a utilização da capacidade instalada é de 65,6%. Atualmente, as siderúrgicas podem produzir 50,4 milhões de toneladas de aço por ano e, no ano passado, chegou a 35,2 milhões de toneladas. "Para sermos competitivos, o ideal era trabalharmos com um nível de ociosidade abaixo de 20%. Mas, para isso precisamos que a economia cresça a níveis sustentáveis", afirmou o executivo que também é presidente da Usiminas.

Levantamento do Aço Brasil aponta que o país precisa crescer mais de 2,5% ao ano para melhorar as vendas de aço no mercado interno. "O nosso melhor ano foi em 2013, quando atingimos o volume de 24,3 milhões de toneladas vendidas internamente. Com o PIB neste patamar vamos atingir esse volume só em 2031. Para antecipar esse desempenho a economia brasileira precisa crescer mais de 5% ao ano."

Dentro dessa perspectiva de volume acima de 24 milhões de toneladas vendidas internamente, Leite disse que o país precisa retomar os investimentos na construção civil, infraestrutura e estimular as exportações. "Hoje, temos mais de 400 obras paradas no país. Se isso fosse retomado poderíamos dar um salto no consumo de aço."

Com a recuperação da economia ainda patinando, as siderúrgicas decidiram suspender os aumentos de preços do aço que valeriam a partir deste mês. Os reajustes para aços laminados a quente e a frio, chapas grossas, aços galvanizados e pré-pintado estavam previstas para 10% a 12% e seriam aplicados, inicialmente, para os distribuidores de aço e grandes clientes.

Em março e abril deste ano, as empresas já haviam reajustado os preços da tonelada de aço em 10% a 15%. Esse aumento, no entanto, não foi absorvido em sua totalidade pelo mercado, apurou o Valor. Com isso, o novo reajuste, anunciado no mês passado para ser aplicados em julho, poderia ser comprometido justamente pela fraca demanda interna.