Valor econômico, v.20 , n. 4802 , 27/07/2019. Política, p. A10

 

Oposição traça estratégia para tentar barrar indicação de Eduardo Bolsonaro.

 

 

 

 Renan Truffi

Vandson Lima

Brasília

 

 

 

Ciente de que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não deve criar obstáculos para a indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como embaixador nos Estados Unidos, a oposição traça estratégias para tentar barrar a escolha do filho do presidente Jair Bolsonaro na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado.

A ideia é minar o deputado federal em duas frentes: questioná-lo sobre assuntos típicos da carreira de diplomata, expondo seu despreparo para o posto, e incentivando o voto aberto, como forma de constranger parlamentares inclinados a referendar a indicação.

A tática parte da conclusão de que Alcolumbre, cuja candidatura à presidência do Senado foi patrocinada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, não deve rivalizar com o Palácio do Planalto neste assunto.

Segundo aliados, o presidente do Senado tinha preferência por Pedro Bório, cônsul em São Francisco, quando o mais cotado para embaixador em Washington ainda era Nestor Forster. Em maio, ele chegou a travar o trâmite de 14 indicações, com vistas a chamar a atenção do governo. Contudo, não atuará para atrapalhar a escolha de Eduardo.

Não interessa ao presidente do Senado, neste momento, abrir guerra contra o governo, até por pretensões políticas futuras. Terceiro colocado na disputa pelo governo do Amapá em 2018, Alcolumbre terá de escolher em 2022 por tentar renovar o mandato de senador ou buscar novamente o comando de seu Estado.

Neste cenário, os senadores querem expor Eduardo desde a sabatina, obrigatória para a indicação de embaixadores brasileiros. O objetivo é testar a bagagem intelectual do deputado federal para o mais importante posto da diplomacia brasileira. "Na CRE, vamos ter no mínimo 7 votos [de 18 possíveis] contra a indicação", diz o líder da oposição, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). "Esta é questão central que vamos abordar [a bagagem intelectual]. A oposição vai fazer perguntas tradicionais para a carreira diplomática, da prova do Itamaraty, a mais difícil do serviço público brasileiro. Esperamos que ele esteja preparado. Queremos saber o que ele conhece sobre as tradições e os nomes da diplomacia brasileira. Ele que se prepare para uma sabatina longa", disse.

Desde 1966, apenas diplomatas de carreira assumiram a embaixada americana. O último indicado de fora dos quadros do Itamaraty foi o ex-governador da Bahia Juracy Magalhães, designado por Castelo Branco.

Em outra frente, senadores contrários à designação do filho do presidente querem estimular que todos os parlamentares tenham de revelar publicamente, em plenário, seu voto, tal como ocorreu na eleição da Presidência do Senado.

Nos dois casos, de acordo com o regimento da Casa, a votação é secreta. Em fevereiro, a revelação pública do voto foi usada para constranger apoiadores de Renan Calheiros (MDB-AL) e se mostrou bem-sucedida, com a vitória de Alcolumbre. Agora, a ideia é usar da mesma estratégia para pressionar os apoiadores da controversa indicação de Eduardo Bolsonaro.

Por outro lado, senadores já dão como certo que partidos mais próximos ao governo irão pressionar para substituir senadores titulares por suplentes na CRE, composta por 18 senadores. O bloco formado por PSDB e PSL, por exemplo, tem três cadeiras, ocupadas hoje pelos senadores Antonio Anastasia (PSDB-MG), Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Major Olímpio (PSL-SP) e entre os suplentes está o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), irmão do indicado a embaixador.

O receio de que isso aconteça gerou especulações sobre a possibilidade de o líder do PSDB, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), interceder pela substituição de Mara Gabrilli na comissão, já que a tucana teria posição contrária à escolha de Eduardo para o posto diplomático. Rocha se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro na semana passada, mas negou qualquer pedido do Executivo neste sentido. "Tem muitas notícias aí, de que eu vou tirar quem está contra [a indicação]. Não tem isso, não. A bancada do PSDB é muito madura. Não tem nada disso [de tirar a Mara]. Imagina se eu ia fazer uma coisa dessas", afirmou ao Valor.