Valor econômico, v.20, n.4801, 26/07/2019. Brasil, p. A2

 

Emprego formal tem melhor junho desde 2013, mas número ainda é fraco 

Thais Carrança 

Ana Krüger 

26/07/2019

 

 

O mercado de trabalho formal gerou 48,4 mil vagas em junho, acima do esperado pelos analistas (35,9 mil) e o melhor resultado para o mês desde 2013. O número, no entanto, é baixo se comparado ao padrão anterior à recessão, refletindo a fraqueza da atividade no primeiro semestre.

Para a segunda metade do ano, a expectativa dos analistas e do governo é de melhora na geração de vagas, em linha com a recuperação modesta também esperada na atividade. Ainda assim, o saldo de postos com carteira em 2019 deve ser similar ao de 2018.

No acumulado do primeiro semestre, foram criadas 408,5 mil vagas, considerando a série ajustada para incluir dados enviados com atraso pelas empresas. De janeiro a junho de 2018, foram criados 392,5 mil empregos. Em 12 meses até junho, o saldo é de 524,9 mil postos formais.

Em junho, houve crescimento em seis dos oito setores econômicos. Os destaques positivos no mês foram serviços (23 mil), agropecuária (22,7 mil) e construção civil (13,1 mil). Já na ponta negativa, a indústria de transformação fechou quase 11 mil vagas, e o comércio, 3 mil.

O comportamento foi típico para o período. "A geração de empregos na indústria cresce mais no terceiro trimestre, com a produção para atender à demanda do período de festas. O meio do ano, passado o Carnaval e com o fim de ano ainda longe, é um período mais fraco para comércio e indústria", diz o economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Já a agropecuária gera mais empregos devido ao período de colheita.

Por regiões, o Sudeste puxou a criação de vagas em junho, com um saldo líquido positivo de 31 mil postos. Em seguida, vêm Centro-Oeste (11 mil postos), Nordeste (5,1 mil) e Norte (4 mil). Já a região Sul foi a única a registrar saldo negativo no mês, com o fechamento de 2,7 mil postos.

Das categorias criadas pela reforma trabalhista em vigor desde novembro de 2017, o trabalho intermitente gerou 10,2 mil vagas em junho, representando 21% do saldo de vagas criadas no mês. No chamado regime de tempo parcial, o saldo foi de 1,4 mil empregos. As demissões mediante acordo entre empregador e empregado somaram 17,9 mil, menos de 2% do total de desligamentos.

O salário médio real de admissão no país foi de R$ 1.606,62 em junho, alta de 1,42% na comparação com o mês anterior. Já o salário médio de desligamento foi de R$ 1.766,67, aumento de 1,40%.

"O resultado de junho veio dentro do esperado do ponto de vista do que ocorreu com a economia no primeiro semestre", afirma o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria.

Xavier lembra que o período foi marcado pela perda de dinamismo de uma economia que já crescia lentamente; pela fraqueza da indústria, que tem maior grau de formalização e salários mais altos; e por empresas com estoques elevados e ainda passando por ajustes que reduzem o ímpeto de contratação formal.

Com ajuste sazonal, o economista calcula que a geração de vagas em junho foi de 25,2 mil vagas, contra 10,7 mil em maio. No entanto, nos primeiros seis meses do ano, a média mensal dessazonalizada está em 25 mil postos, contra 40 mil no segundo semestre de 2018, o que demonstra essa perda de dinamismo.

Para a segunda metade do ano, o analista espera melhora do emprego formal tanto por fatores sazonais, com o início a partir de agosto da contratação de temporários para atender à demanda do fim de ano, quanto pela melhora esperada da economia.

Flavio Serrano, economista-chefe do Haitong, acredita que o saque das contas do FGTS também deve contribuir favoravelmente. "Cerca de 80% das contas do fundo têm saldo até R$ 500, então é um universo gigantesco de pessoas que serão atingidas", avalia Serrano. Além disso, a renda mediana do brasileiro é de R$ 1,5 mil destaca. "Para a maior parte das pessoas, vai representar de 50% a um salário a mais por ano, isso é bastante coisa", diz.

Segundo a Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia, o comércio deve ser o primeiro setor a refletir os efeitos dos saques do FGTS e do PIS/Pasep. Para o secretário Bruno Dalcolmo, a liberação de recursos, juntos às reformas da Previdência e tributária e à MP da Liberdade Econômica, ajudará na retomada da confiança, o que se refletirá nos dados do emprego.

Apesar da melhora esperada para o segundo semestre, os economistas avaliam que o saldo de vagas este ano deve ser similar ao de 2018. A mediana de 17 estimativas colhidas pelo Valor Data apontava para um saldo em 2019 de 440,8 mil vagas, pouco acima das 421 mil de 2018, na série sem ajuste para dados com atraso.

"O diagnóstico geral é de um crescimento moderado, que vai levar a um 2019 muito parecido com 2018", diz Duque. A instituição projeta saldo de 525 mil vagas em 2019, a Tendências estima 500 mil, e o Haitong, 350 mil.