Valor econômico, v.20, n.4804, 31/07/2019. Especial, p. A16

 

País deve buscar acordo amplo com EUA, diz Troyjo 

Lu Aiko Otta 

31/07/2019

 

 

Uma conjuntura inédita permite hoje a busca de um acordo comercial amplo entre Mercosul e Estados Unidos, disse ao Valor o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo. "Não penso em um alinhamento tão favorável quanto como o que se tem hoje", afirmou.

Ele se refere ao fato que os presidentes de EUA, Donald Trump, Brasil, Jair Bolsonaro, e Argentina, Mauricio Macri, estão alinhados numa proposta de economia liberal e abertura de mercados. "Precisamos explorar isso."

Além disso, a Casa Branca detém uma autorização do Congresso para negociar acordos, chamada Trade Promotion Authority (TPA), válida até 2021. A falta desse mandato foi um empecilho à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) no início dos anos 2000, quando os então presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton também estavam sintonizados na busca de um amplo acordo comercial.

Embora Trump tenha defendido um acordo comercial com o Brasil, ainda não está claro qual será o formato. Existem duas possibilidades sobre a mesa: um acordo que envolva tarifas de comércio, que deve ser negociado com o Mercosul. Ou um entendimento que não envolva a parte comercial, e sim temas como facilitação de comércio, convergência regulatória e produtos digitais, que pode ser tratados isoladamente com o Brasil.

Nas conversas que o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, manteve ontem em São Paulo, não ficou claro qual é a via preferida pelos norte-americanos, segundo apurou o Valor. Ross será recebido hoje por Bolsonaro e depois terá uma reunião técnica com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe. Ross e Guedes se conhecem e ambos são homens de negócios, o que gera expectativa de uma negociação pragmática.

"Acho que deveríamos buscar uma agenda mais ambiciosa", disse Troyjo. Ele ressalta que Brasil e EUA são as duas maiores economias das Américas, duas das maiores democracias do mundo e têm um intercâmbio muito abaixo do potencial. "Estamos voando abaixo da altitude possível", afirmou.

Um acordo amplo é também desejo do setor privado brasileiro. "É interessante que se faça um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos", frisou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que reuniu-se na segunda-feira com Ross. "É a maior economia do mundo, são os maiores compradores."

"Essa é a melhor notícia em dez anos", afirmou o gerente-executivo de Comércio Exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Diego Bonomo. Ele informou que, desde a crise de 2008/2009, o setor empresarial brasileiro convenceu-se da necessidade de abrir a economia.

Pesquisa da CNI em 2018 com 589 empresas de todos os portes, responsáveis por 95% das exportações brasileiras, indicou que um acordo com os EUA é prioridade para elas. O país foi apontado por 22,4%. Segundo colocado, o México ficou com 8,7% das menções.

Apesar da conjuntura propícia ao acordo mais ambicioso, envolvendo o Mercosul, o governo mantém cautela. Há incertezas políticas à frente, como a eleição neste ano na Argentina, que poderá resultar numa troca de orientação política no país vizinho, e a própria eleição nos EUA, em 2020.