Título: Mantega: IOF contra especulação
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Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2012, Economia, p. 19

Governo poderá taxar capital estrangeiro para evitar que o aumento do fluxo de recursos de curto prazo para o país eleve a cotação do real e prejudique a economia

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo poderá aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para barrar a entrada de capitais estrangeiros especulativos no país e impedir, desse modo, a valorização do real. A medida seria uma reação às políticas monetárias expansionistas adotada por países desenvolvidos, que, segundo ele, vêm inundando a economia global com recursos que acabam pressionando as taxas de câmbio em mercados como o do Brasil.

Mantega, que cunhou a expressão "guerra cambial" para descrever esse processo, vem dirigindo duras críticas, em particular, ao Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, que adota essa estratégia desde 2008 e anunciou, na semana passada, que vai despejar mais US$ 40 bilhões por mês na economia para reanimar a atividade. O problema, segundo o ministro, é que ações como essa provocam forte desvalorização do dólar, movimento que facilita as exportações norte-americanas e prejudica, na outra ponta, as vendas do Brasil e de outros países afetados, além de acirrar, no mercado interno, a concorrência dos fabricantes nacionais com produtos importados.

"Não vamos permitir que nossa economia perca competitividade", disse o ministro, durante seminário organizado pela revista britânica The Economist. "Vamos tomar todas as medidas necessárias. O Banco Central comprará mais reservas, fará mais swaps reversos (operação que equivale à compra de dólares), e vamos adotar mais medidas como as que usamos no passado", completou.

Em 2009, o governo taxou diversas modalidades de ingresso de capital estrangeiro, como as destinadas à compra de ações e títulos de renda fixa, mas posteriormente reduziu o alcance dessa tributação. "Se for necessário, temos a opção de usar (novamente) impostos para capital de curto prazo", reiterou ontem o titular da Fazenda. Atualmente, operações de até dois anos pagam 6% de IOF.

Barreiras A política norte-americana de aumentar a oferta de recursos na economia, conhecida como "quantitative easing (QE)", foi seguida nesta semana pelo Banco do Japão, que ampliou em US$ 127 bilhões um programa que prevê a compra de títulos em poder de bancos e investidores. Antes disso, o Banco Central Europeu (BCE) já havia adotado iniciativas semelhantes. Como parte dos recursos extras acabam indo rumo a países emergentes, em busca de juros e rendimentos mais elevados, a imposição de barreiras é uma ação natural de proteção, argumentou Mantega. O aumento do fluxo de capitais foi também a justificativa para a elevação das tarifas de importação decididas recentemente pelo Brasil. "Estados Unidos e Japão estarão estimulando a guerra cambial uma vez que levarão todas as nações a adotarem medidas iguais", disse ele. "É natural que outros países se defendam."