Valor econômico, v.20, n.4804, 31/07/2019. Especial, p. F2

 

Biomassa da cana ganha fôlego com RenovaBio 

Domingos Zaparolli 

31/07/2019

 

 

A Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), que entrará em vigor em janeiro, e uma portaria publicada em junho pelo Ministério de Minas e Energia, permitindo que usinas de açúcar e álcool emitam debêntures incentivadas para captar recursos para o financiamento de seus investimentos, têm o potencial de ampliar em quase 60%, até 2030, a geração elétrica obtida com a biomassa resultante da moagem da cana-de-açúcar, saindo de 21,5 mil GWh gerados em 2018 para 34 mil GWh.

A estimativa é de Zilmar José de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), e considera que as medidas governamentais vão destravar investimentos e proporcionar um aumento da produção de etanol dos atuais 31 bilhões de litros anuais para 49 bilhões de litros em 2030, disponibilizando mais biomassa - bagaço e palha - para a geração de energia.

O setor sucroalcooleiro soma 369 usinas, das quais 200 comercializam eletricidade no Sistema Integrado Nacional (SIN). No ano passado, 69% da geração foi comercializada no mercado livre de energia e 31% foram destinados ao ambiente regulado.

Os 21,5 mil GWh gerados pelo setor em 2018 abasteceram um consumo equivalente ao de 11,4 milhões de residências. O resultado foi obtido com o aproveitamento de apenas 15% da biomassa presente nos canaviais. Segundo cálculos da Unica, o aproveitamento pleno da biomassa teria potencial para gerar 142 mil GWh. "Essa geração não ocorre por falta de estímulos adequados", afirma.

Um problema é a falta de um modelo de contratação no mercado regulado que diferencie a biomassa, uma fonte renovável, da oferta oriunda de fontes fósseis, como carvão e gás natural, que possuem mais escala e competitividade. Outra reivindicação é a revisão da metodologia de cálculo da garantia física, que determina o volume máximo que uma geradora pode comercializar. Os limites atuais são considerados baixos e uma revisão pode elevar em 20% a geração das usinas.

Os incentivos governamentais também devem estimular os usineiros a investirem na geração de eletricidade a partir do biogás, obtido com o aproveitamento da vinhaça, resíduo da destilação da cana rico em metano.

"Há um claro interesse das usinas em produzir biogás, só não o fazem por falta de capacidade de investir", afirma Newton Duarte, presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen). "O biogás tem o potencial de adicionar 1,3 GW na capacidade de geração elétrica do setor sucroalcooleiro", diz.

Um dos projetos pioneiros em biogás é da Raízen, com uma unidade que está sendo construída em Guariba (SP). "Nossa expectativa é gerar 138 mil MWh e entrar em operação antes de 2022", diz Antônio Simões, diretor executivo de energia da companhia.

A Raízen é uma das principais produtoras de bioeletricidade do país, com geração de 1 GW em biomassa. Em junho a empresa inaugurou uma unidade de energia solar fotovoltaica em Piracicaba (SP), com capacidade de 1,3 MWp. A Raízen vende 66% da energia que gera, destinando a maior parcela ao ambiente regulado.