Título: Campanha com ar de 2014
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2012, Política, p. 5

Três dos principais nomes que estarão no centro das atenções na disputa presidencial de 2014 aproveitam as eleições municipais para apoiar seus aliados e testar o próprio prestígio político diante do eleitorado. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), deixaram as próprias agendas de lado e viajam pelo país para derrubar o estigma de lideranças regionais. A presidente Dilma Rousseff pouco tem viajado pelo acirramento da crise econômica internacional. Mesmo assim, gravou mensagens de apoio para candidatos tão díspares quanto Fernando Haddad (PT-SP) e Vanessa Grazziottin (PCdoB-AM).

Além de acompanhar de perto as eleições municipais, os três presidenciáveis também se debruçam no que acreditam serem os principais trunfos para apresentar ao eleitorado brasileiro daqui a dois anos. Aécio, auxiliado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, retomou o grupo formulador do Plano Real em 1994 — Edmar Bacha, Pedro Malan e Pérsio Arida, acrescido do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga — para elaborar uma agenda econômica alternativa à desenvolvida pelo governo federal.

As primeiras reuniões, ainda informais, aconteceram em São Paulo e no Rio e começaram há cerca de dois meses. "A nossa ideia é ter propostas centradas em desonerações e estímulo ao investimento privado", disse o senador tucano.

Aécio não se intimida com os pacotes de infraestrutura anunciados pelo governo federal. "Eles não conseguem criar confiança entre os investidores porque, na essência, apesar do discurso, eles são estatizantes", criticou o senador, que tem o aliado Márcio Lacerda (PSB) liderando em Belo Horizonte e tucanos bem colocados em Betim, Contagem e Nova Lima, região metropolitana da capital mineira. Ele também tem viajado pelo interior de São Paulo e pelas regiões Sul e Nordeste.

Discussão antecipada

O governador Eduardo Campos esconde o jogo, afirmando que, por enquanto, os seus planos de curto prazo são permanecer ao lado da presidente Dilma. Mas, além de ter uma agenda repleta de caminhadas e comícios nas cinco regiões do país, ainda é estimulado por aliados como o PDT para lançar-se candidato ao Planalto. Como aconteceu, recentemente, em Natal. O presidente do PSB disse que irá "Vou discutir 2014 em 2014".

O PSB, no entanto, vem realizando seminários — já foram pelo menos dois este ano — para discutir qual deve ser o papel do Estado brasileiro. "Nós precisamos ter uma visão estratégica de país, saber o que queremos de futuro", disse o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. O socialista não quer atrelar os debates à uma possível candidatura de Eduardo Campos em 2014. "Nossa intenção é colaborar com o debate político nacional", completou o vice-presidente do PSB.

Dilma viajou pouco para fazer campanha, atarefada com os pacotes econômicos e de infraestrutura e pouco disposta a emprestar sua imagem para candidatos com chances reduzidas de vitória, como o senador Humberto Costa (PT-PE). Mas tem dito a assessores que terá o que mostrar ao eleitorado daqui a dois anos. "As principais obras de infraestrutura do PAC serão entregues no ano da eleição, além das grandes usinas do Rio Madeira que ficarão prontas no ano que vem", declarou um interlocutor da presidente.