Correio braziliense, n. 20446, 14/05/2019. Política, p. 3

 

A ameaça a Santos Cruz

14/05/2019

 

 

A informação de que o general Santos Cruz seria exonerado da Secretaria de Governo vazou na Esplanada dos Ministérios e deixou apreensivos interlocutores do chefe do Executivo federal e congressistas.

O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, comunicou, ontem à noite, que, “neste momento”, o assunto não está na pauta. A resposta, porém, não convenceu parlamentares ouvidos pelo Correio e, pouco depois do comunicado, o porta-voz soltou uma nota oficial informando “não serem verdadeiras as especulações sobre a exoneração do ministro Santos Cruz”.

A eventual demissão de Santos Cruz estaria associada a uma posição desrespeitosa dele em relação ao presidente Jair Bolsonaro em conversas particulares. Como aconteceu com o então ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, a exoneração ocorreria devido à “quebra de confiança”. O titular da Secretaria de Governo teria desdenhado de ilações da ala ideológica do governo de um suposto movimento dos militares para fortalecer o vice-presidente Hamilton Mourão e provocar um golpe em Bolsonaro.

A ameaça de saída de Santos Cruz preocupou interlocutores do governo, sobretudo militares. O ministro é visto pelos oficiais das Forças Armadas como alguém com vasta experiência para traçar estratégias de Estado a longo prazo. Os rumores despertam temor de possíveis impactos ao governo com a queda do general.

Oficiais das Forças Armadas ainda não lidam bem com a falta de apoio enfático de Bolsonaro a ministros e interlocutores militares. Depois de ataques do escritor Olavo de Carvalho contra Santos Cruz e Mourão, que ecoaram entre os filhos do presidente, a avaliação é de que a saída de Santos Cruz por defender a categoria seria inadmissível.

O argumento é respaldado no Congresso. Santos Cruz é o responsável pela interlocução com governadores e parlamentares, sobretudo os do baixo clero e alguns do alto clero, que o veem como um canal de melhor diálogo do que o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Para esses congressistas, o general é mais equilibrado, ao tratar as articulações políticas de governo como de Estado, não olhando partidos específicos.

Mourão saiu em defesa do ministro e o classificou como “um cara excepcional”. “(Mas) são decisões do presidente. Ele é um camarada extremamente trabalhador, conhecedor dos assuntos, e tem procurado cumprir o papel dele com a missão que o presidente deu”, sustentou. Sem citar nomes, o general Paulo Chagas, ex-candidato a governador do DF, declarou, em nota, que o presidente precisa “aprender a distinguir assessores de bajuladores; comprometidos, de interesseiros; sinceridade, de hipocrisia; vaidade pessoal, de interesse público; e realidade, de ilusão. Para o bem do governo e do futuro do Brasil”, disse. (RC)