Título: Dilma quer fim de clube fechado no FMI e Bird
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Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2012, Economia, p. 8

Nova York — A presidente Dilma Rousseff desembarcou ontem em Nova York disposta a levar à abertura da 67ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), amanhã, a mensagem do "multilateralismo". Na visão da presidente, não existe momento melhor para reiterar em seu discurso aos países ricos que a globalização, tão falada em diversos idiomas, deve ser estendida às instituições, no caso o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), hoje comandados como verdadeiros clubes fechados pelos Estados Unidos e a Europa.

Nesse sentido, Dilma está pronta para dizer às demais nações que, sem estabilidade econômica e paz, não haverá o sonhado desenvolvimento sustentável, tema da Rio+20, da qual saiu um documento considerado tímido do ponto de vista dos ambientalistas. O desenvolvimento sustentável, aliás, será o grande nicho que permeará todo o discurso da presidente, uma vez que esse tema vai muito além da defesa do meio ambiente e perpassa a economia, assunto que ela considera fundamental para tratar na Assembleia da ONU.

Na visão da líder brasileira, a solução para a crise europeia requer uma receita um pouco diferente da que vem sendo executada. Afinal, as medidas de contenção de gastos adotadas pelos governos travaram o crescimento econômico de vários países. Grécia, Espanha e Portugal, por exemplo, estão em sérias dificuldades. Diante desse quadro, é impossível prever por quanto tempo os países emergentes, como o Brasil e a China, aguentarão o tranco e continuarão sustentando a expansão global.

Logo nas primeiras horas da manhã, em Nova York, Dilma chamou ministros que a acompanhavam para trocar ideias sobre o discurso que fará amanhã na ONU e o roteiro novaiorquino. Ela queria saber também a respeito do encontro entre o seu ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, e a presidente eleita da Comissão da União Africana, Nikososana Zuma. A sul-africana Nikososana, segundo diplomatas brasileiros, foi incisiva ao falar da sua esperança de ver o Brasil liderando a busca pelo multilateralismo econômico e político. Os países africanos, assim como o governo brasileiro, desejam um assento no Conselho de Segurança da ONU, que até hoje não veio.

Os encontros bilaterais da presidente ainda não foram fechados. Até ontem à tarde, estava previsto apenas que ela teria um encontro com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, do qual participaria o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (Fia), Jean Todt, que atualmente lidera uma campanha de segurança no trânsito.

Na terça-feira, a presidente deve passar a a manhã no plenário da ONU, pois quer acompanhar o discurso do presidente dos EUA, Barack Obama. A possibilidade de uma conversa com o norte-americano voltou à pauta da viagem, mas até ontem não havia sido confirmada. A passagem de Obama por Nova York deve ser rápida por conta da campanha pela reeleição. Não está descartado um encontro da líder brasileira com a chanceler alemã, Angela Merkel. Em Berlim, no ano passado, Dilma criticou as medidas adotadas pelo governo alemão para conter a crise europeia e Merkel não gostou das críticas. Agora, em Nova York, será a oportunidade de desanuviar o ambiente entre as duas.