Título: Suspense na reta final
Autor: Luna , Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2012, Mundo, p. 12

A apenas 13 dias das eleições na Venezuela, o cenário de quem será o mandatário do país entre 2013 e 2019 permanece indefinido. Embora o presidente Hugo Chávez, há 13 anos no cargo, garanta ter cerca de 15 pontos percentuais de vantagem sobre o candidato de oposição, Henrique Capriles Radonski, algumas pesquisas apontam a vitória do ex-governador do estado de Miranda. Mesmo depois das denúncias de corrupção que envolvem sua campanha, Capriles passou à frente do chefe de Estado em uma análise da companhia Predicmática, com 48,3% das intenções de voto. Apesar de aparecer na sondagem com 43,9%, Chávez assegura ser "absolutamente impossível" que o adversário ocupe o Palácio de Miraflores. Como busca obter 70% dos votos de aproximadamente 19 milhões de venezuelanos, o atual presidente tem se esforçado para agradar eleitores indecisos, principalmente os jovens e a classe média.

Chávez afirma ter uma "vantagem irreversível" sobre o concorrente, em referência a uma pesquisa de intenção de votos da Datanálisis — realizada na semana passada — que aponta o presidente com 43,8% dos votos, contra 29,1% para Capriles. O mandatário continua com discursos duros contra o rival. Segundo Chávez, o representante da "burguesia" acabará com os programas sociais do governo e causará uma guerra civil, caso chegue ao poder. Além dos ataques e da recusa em participar de um debate com Capriles, o líder bolivariano busca se mostrar como uma boa opção para grupos sociais distintos. "Temos que nos voltar para a classe média, para os pequenos produtores e para os setores profissionais da mídia", enumerou, em uma reunião nas últimas semanas. Uma das iniciativas de Chávez para angariar votos dos indecisos é oferecer moradias a preços baixos e com financiamento total para famílias que recebem, mensalmente, o equivalente a entre US$1,6 mil e U$ 6,2 mil.

O professor Eduardo Gamarra, do Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade Internacional da Flórida (EUA), recordou que o atual presidente procede de uma família de baixa renda, "mais próximo da média dos venezuelanos". No entanto, reforça que Chávez aprendeu que não pode construir a carreira política somente nos setores mais pobres da sociedade. "A Venezuela reduziu a pobreza crítica nos últimos anos, mesmo não chegando ao resultado ideal. Mas, agora, o país possui uma classe média que batalha por melhores condições. Por isso, o candidato tem prometido bons empregos para esse grupo", analisou Gamarra.

Slogan O candidato à reeleição — que ganhou as outras disputas com mais de 15 pontos percentuais de diferença para o segundo colocado — voltou-se para a juventude depois de uma iniciativa independente de um grupo de partidários. O movimento "Chávez é outro beta" elaborou anúncios do presidente com a aparência rejuvenescida, mais magro e em ações que atraem adolescentes, como dançando rap, pilotando uma moto ou jogando basquete. O grupo surgiu no distrito de Miranda e classifica o mandatário como "outro beta", expressão que faz contraponto à gíria "beta", usada nos bairros da periferia de Caracas em referência a qualquer coisa negativa. O candidato gostou do slogan e chegou a usá-lo em um comício no bairro Petare, da capital do país. "Chávez somos todos, Chávez é "outro beta", Chávez é Petare", bradou.

Alejandro Velasco, professor de estudos latino-americanos da Universidade de Nova York (EUA), destacou que, embora Chávez não tenha buscado atrair o voto dos jovens em campanhas anteriores, seu governo realizou políticas específicas para esse grupo, como as Escolas Bolivarianas e a missão Vuelven Caras, a fim de ajudar os mais novos a encontrar trabalho. "Mas vejo essa "campanha jovem" do presidente como mais para ele parecer jovial do que para conquistar o grupo de 18 a 28 anos", comentou. Mesmo que garanta ter derrotado o câncer, Chávez precisa projetar uma imagem vibrante para o povo e acabar com o temor de que ele morra no governo, o que paralisaria seu planos sociais.

Favoritismo O venezuelano de Maracaibo (nordeste) Raul Sanchez Urribarri, cientista político da Universidade La Trobe, na Austrália, afirmou considerar muito difícil que Chávez não seja reeleito. "Por uma série de razões, ele ainda é o favorito. A mais importante é a econômica: o preço do barril de petróleo é alto e as pessoas na Venezuela e em qualquer lugar votam com seus bolsos. O presidente ainda tem um reservatório de imagem positiva do líder trabalhador que faz tudo o que pode em nome da nação", detalhou. Urribarri morou na Venezuela até 2004 e teve a oportunidade de viver sob o governo Chávez. "Naquela época (1999), ele era um líder que propunha grandes mudanças políticas e sociais, em um país com duas décadas de padrão de vida decrescente e com o aumento da corrupção", lembrou. Ele admite, no entanto, que nunca gostou da personalidade e da tendência ao autoritarismo do mandatário, e criticou "essa ideia de que ele encarna a voz do povo".

Suposto dinheiro ilícito A Assembleia Nacional da Venezuela criou uma Comissão Especial para investigar a suspeita de que o deputado Juan Carlos Caldera, do partido Primero Justicia (PJ) e representante de Henrique Capriles o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), tenha recebido dinheiro ilícito para financiar a campanha do opositor. Há duas semanas, foi divulgado um vídeo em que Caldera aparece pegando dinheiro das mãos de um empresário e o guardando em um envelope. O deputado admitiu que financiaria sua campanha à Prefeitura de Sucre e a de Capriles com o montante. O candidato à presidência afastou Caldera de sua candidatura.