Valor econômico, v.20, n.4792, 15/07/2019. Brasil, p. A5

 

BNDES vai priorizar 'assessoria' a governos 

Francisco Góes 

15/07/2019

 

 

A nova estrutura de gestão do Banco Nacional de desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), anunciada na sexta-feira e antecipada pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, vai reforçar o papel da instituição de fomento como um prestador de serviços para a União, Estados e municípios em concessões, privatizações e Parcerias Público-Privadas (PPPs). Ao mesmo tempo, o BNDES deve acentuar o processo de redução de desembolsos.

O novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, tem indicado ao corpo técnico que o banco vai ser menor - do ponto de vista de balanço - e que deve ser sustentável, mas não necessariamente lucrativo. Ser sustentável significa andar com as próprias pernas, arcando com seus custos de operação, sem depender de repasses do governo.

Em 2019, os desembolsos do BNDES tendem a ser menores do que os R$ 69,3 bilhões do ano passado quando o banco registrou, a valores correntes, o menor volume financeiro emprestado desde 2007. De janeiro a março de 2019, os desembolsos somam R$ 14,48 bilhões, aumento de 30% sobre igual período de 2018. Para especialistas, o problema maior do banco, em termos de desempenho operacional, deve ser em 2020 uma vez que, este ano, existe um portfólio garantido, em termos de contratações de operações de crédito, feitas em anos anteriores.

Um ex-executivo do banco disse que o BNDES precisa gerar receita para se manter e assegurar a continuidade de outras atividades que não são rentáveis como a estruturação de projetos, inovação e apoio cultural, entre outras. "É preciso haver um equilíbrio", afirmou referindo-se às operações de crédito e à prestação de serviços para governos nas três esferas (União, Estados e municípios). A ênfase na prestação de serviços já havia sido indicado no planejamento estratégico do BNDES, ainda no governo Temer, e que ficou a cargo da consultoria Roland Berger, disse uma fonte.

Na nova estrutura organizacional proposta por Montezano, haverá três diretorias que terão ênfase na prestação de serviços ao setor público. São elas a área de infraestrutura, a cargo de Fábio Abrahão; a área de privatizações, sob o comando de Leonardo Cabral, e a diretoria de relacionamento institucional e governos, que será liderada por Adalberto Vasconcelos, ex-secretário especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Na apresentação que fez a superintendentes do banco na sexta e que no mesmo dia tornou-se pública, Montezano referiu-se às diretorias de infraestrutura e de privatizações como "assessorias". O objetivo foi, justamente, o de demonstrar a ênfase que essas áreas terão na prestação de serviços à União, Estados e municípios.

Os nomes destes três novos diretores, assim como de outros executivos que vão somar-se à diretoria do BNDES, precisarão ainda passar pela validação de processos internos, atendendo a requisitos da Lei das Estatais. No total, a diretoria do BNDES passará a ser formada por 11 integrantes, incluindo dez diretores e o presidente da instituição. Trata-se da maior diretoria nas últimas gestões do banco considerando, inclusive, o longo período de governos do PT. "Não deixa de ser curioso considerando que é uma gestão que chega para reduzir o tamanho do BNDES", disse um ex-dirigente do banco.

Além da diretoria de relações institucionais e governos, haverá outras duas novas instâncias de decisão no BNDES. Vai ser criada a diretoria de recursos humanos, cujo responsável ainda será escolhido; e a diretoria de compliance, a cargo do advogado Alexandre Marques. A área de compliance será cindida da diretoria jurídica, que ficará a cargo de Saulo Puttini. Na área de operações, o responsável será Ricardo Barros, formado em tecnologia da informação pela PUC-RJ. Na área de crédito e garantias, o diretor indicado é o engenheiro Petrônio Cançado. Haverá ainda uma área de crédito e participações que, provisoriamente, será conduzida por Denise Pavarina. Denise foi levada para o BNDES pelo ex-presidente Joaquim Levy e conduzirá um processo de transição em sua área até a chegada do novo diretor. O mesmo vale para José Flávio Ramos, que conduzirá a transição para um novo executivo na diretoria financeira e para Roberto Marucco, na área de RH.