Valor econômico, v.20, n.4796, 19/07/2019. Política, p. A6

 

"Pretendo, sim, beneficiar um filho meu", diz Bolsonaro sobre Eduardo 

 Ana Krüger

Carla Araújo

Estevão Taiar 

Fabio Murakawa

19/07/2019

 

 

Bolsonaro, em ato dos 200 dias de governo: ao lado de Alcolumbre, presidente afirma que indicação de filho para embaixada será aprovada pelo Senado

Na cerimônia dos 200 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender ontem a indicação de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a embaixada nos Estados Unidos e disse acreditar que seu herdeiro será aprovado pelos senadores.

O presidente aproveitou a presença do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), no evento para dizer que sabe que o filho não será barrado. "Essa possível indicação passa, Davi Alcolumbre, por vocês. Eu não tenho autoridade para [dizer] 'ele vai para lá'. Passa pela Comissão de Relações Exteriores e depois pelo próprio Senado. Eu tenho certeza de que a sabatina será feita com rigor e ele vai ser aprovado", afirmou.

Pela manhã, no Alvorada, o presidente se irritou e disse não entender as razões das críticas à indicação do "zero 3". "Por que essa pressão em cima de um filho meu?", perguntou. "Ele é competente ou não é competente? Dentro do quadro das indicações políticas, vários países fazem isso, e é legal fazer no Brasil também", disse. Na transmissão ao vivo que fez mais tarde, Bolsonaro disse pretender encaminhar o nome do filho mesmo que desagrade os eleitores. "Quem diz que não vota mais em mim, paciência", declarou. E admitiu que a indicação é uma forma de favorecimento. "Pretendo, sim, beneficiar um filho meu. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, vou dar. Mas não tem nada a ver com filé mignon essa história aí. É aprofundar um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo", disse.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que a indicação "é um gol de placa" e também mostrou otimismo com a aprovação pelo Senado. "Se o presidente nos der esse comando [de enviar o nome ao Senado] os senhores serão convidados para a cobrir a posse em Washington".

Onyx foi uma espécie de coordenador do evento de ontem. Com o adiamento do anúncio da liberação das contas do FGTS e PIS/Pasep, para a comemoração dos 200 dias de governo sobrou o anúncio de medidas de menor impacto. Bolsonaro assinou decreto que cria um conselho de preparação e acompanhamento da adesão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Outro decreto amplia a lista de cargos de comissão submetidos a critérios de ocupação. As regras também valerão para agências reguladoras e universidades. Os critérios estão em decreto anterior e são: idoneidade moral e reputação ilibada, perfil profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo e não enquadramento nas hipóteses de inelegibilidade.

Bolsonaro decretou ainda a mudança do Conselho Superior do Cinema do Ministério da Cidadania para a Casa Civil. De acordo com o Onyx, o governo buscará criar critérios mais rígidos para uso dos recursos públicos no setor.

O presidente decretou também a consolidação das leis sobre a pessoa idosa. Por medida provisória, manteve na Defensoria Pública da União (DPU) funcionários requisitados da administração federal direta, autárquica e fundacional. E por Projeto de Lei, revogou expressamente 583 Leis e Decretos-leis, de 1937 a 2018, "considerados implicitamente revogados ou com a eficácia ou validade prejudicada".