O Estado de São Paulo, n. 45801, 12/03/2019. Metrópole, p. A13

 

Tempestade mata 12, deia moradores ilhados e paralisa Grande São Paulo

Isabela Palhares

Juliana Diógenes

Júlia Marques

Paula Felix

Giovana Girardi

Viviane Bittencourt

12/03/2019

 

 

Clima. Em uma noite, chuva na capital e no ABC já se aproxima do esperado para todo o mês; deslizamentos provocaram 5 mortes, quatro em Ribeirão Pires; enxurrada ilhou mulheres e crianças e deixou 4 vítimas na Avenida do Estado; três rios transbordaram

As chuvas na capital e na Grande São Paulo, na noite de domingo e na madrugada de ontem, deixaram ao menos 12 mortos e 5 feridos. É o maior número de óbitos envolvendo enchentes e soterramentos após um temporal desde 10 de março de 2016, quando houve 18 óbitos na região. Só na capital, entre meia-noite e as 23 horas, os bombeiros relataram 135 chamados por queda de árvore, 175 para desabamentos e 864 para enchentes. Equipes de resgate usaram botes e helicópteros para salvar moradores ilhados e houve queda de energia, congestionamentos e uma linha de trem parada.

A chuva ficou bem acima do previsto para esta época. Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a interação entre uma frente fria entrando pelo Vale do Ribeira e um sistema de baixa pressão muito perto do litoral contribuíram para a precipitação elevada. Em Santo André, choveu 182 milímetros em 24 horas – 80% da média para todo o mês. Em São Bernardo do Campo e Ribeirão Pires, correspondeu a 78% e a 74% das médias mensais, respectivamente, diz o informe.

O coronel José Roberto Oliveira, secretário de Segurança Urbana da capital, disse que o acumulado do mês chegou a 160 mm, ante média de 170 mm. “Desde 2016 não tínhamos volume tão grande de chuva. E em alguns pontos, como na Vila Prudente e Ipiranga, o volume foi ainda maior.”

A gravidade da situação e a repercussão negativa de sua ausência fizeram o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), antecipar a volta de licença de seis dias (leia mais nesta página). São Bernardo anunciou ontem à noite estado de calamidade pública. Também foram apresentadas 14 medidas de emergência, como isenção de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) para os imóveis afetados. “Que não se subestime o poder da natureza. Só saiam na chuva em caso de extrema necessidade”, alertou o secretário estadual do Meio Ambiente, Saneamento e Energia, Marcos Penido.

Mortes. Deslizamentos causaram 5 das 12 mortes, incluindo a de um bebê . O caso mais grave foi registrado no bairro Estância das Rosas, em Ribeirão Pires, na região metropolitana. Seis pessoas estavam em uma casa quando houve o soterramento, por volta da meia-noite.

Duas delas sobreviveram e foram levadas ao hospital (uma mulher de 52 anos e uma menina de 9). Outras quatro (três homens, de 22, 32 e 33 anos, e uma mulher, de 35) morreram no local. Não há identificação oficial dos mortos, que comemoravam um aniversário. Segundo a prefeitura, o imóvel era irregular. Em São Paulo, no Parque São Rafael, limite com o ABC, um deslizamento deixou uma mãe e duas crianças feridas.

Mais cedo, com o transbordamento de dois córregos e do Rio Tamanduateí, o quadro ficou mais crítico nas regiões do Ipiranga e da Avenida do Estado, às 20h30 de domingo. No limite de São Paulo e São Caetano, quatro pessoas foram arrastadas pela enxurrada. Quatro mulheres e 8 crianças foram resgatadas. Houve ainda dois afogamentos em Santo André e um em São Bernardo – um motociclista levado na enchente.

Prejuízos. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio) estimou em R$ 45 milhões os prejuízos ao comércio. Já moradores como os da Rua Manifesto, no Ipiranga, paralela à Avenida do Estado, não conseguiam nem contabilizar as perdas. A rua ficou inundada e muitos precisaram ser resgatados com botes.

“Moro aqui desde 2006 e nunca passei por nada nesse nível. Perdi rack, poltrona, cadeira, cama”, enumerou a dona de casa Daniela dos Reis, de 38 anos. Ela chora ao se lembrar do resgate. “Meu marido saiu do trabalho e não conseguia chegar em casa. Estava com a minha mãe, cadeirante, meu filho de 9 anos e a cachorra. Fiquei desesperada, gritando. Quando saímos, a água já estava no pescoço.”

Em um condomínio na mesma rua, 150 carros que estavam em dois andares de garagem foram cobertos pela água. O local teve de ser evacuado na tarde de ontem – os moradores tiveram de sair às pressas, somente com poucos itens pessoais. Nas redes sociais, internautas compartilharam vídeos de alagamentos e a chuva foi um dos assuntos mais comentados.

Segundo a Enel, duas subestações foram alagadas, cortando a energia aos bairros Sacomã e São João Clímaco, na capital, além de partes de São Bernardo e São Caetano. A concessionária informou ontem à noite que mais de 90% dos clientes tiveram o serviço restabelecido.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da capital suspendeu a Zona Azul e o rodízio. Os analistas de TI André Fernandes, de 32 anos, e Rafael Nunes, de 28, e o analista de Telecom Maurício Cardoso, de 25, estavam em um veículo fretado rumo ao trabalho, em Barueri, região metropolitana. Haviam saído de casa às 6 e até as 10 horas só haviam chegado à Ponte do Tatuapé, onde ficaram travados no engarrafamento na Marginal do Tietê. Resolveram voltar a pé para casa.

Pela manhã, houve registro de 180 km de congestionamento, 2.º pior do ano. A Linha 10Turquesa da CPTM ficou paralisada – a subestação de energia da linha foi danificada pela 1.ª vez em 20 anos.

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Em um ano, verba da Prefeitura contra enchentes cai 21%

Isabela Palhares

Marco Antônio Carvalho

Pedro Venceslau

12/03/2019

 

 

Em 2018, Município gastou R$ 382,7 milhões, ante R$ 486,2 milhões no ano anterior. Chuva fez Covas antecipar retorno

As verbas aplicadas pela Prefeitura de São Paulo em ações de manutenção e em obras de drenagem e de combate a enchentes e alagamentos estão em queda. A quantia somada de oito diferentes dotações do orçamento apontam que foram gastos no ano passado R$ 382,7 milhões, queda de 21% em relação a 2017 (R$ 486,2 milhões). Os dados de despesas foram corrigidos pela inflação.

Em licença não remunerada do cargo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) decidiu ontem antecipar seu retorno do exterior após os desdobramentos da tempestade e a repercussão negativa de sua ausência, ainda durante o período chuvoso. Ele deverá reassumir o posto hoje.

Os dados da execução orçamentária, levantados pela Liderança do PT na Câmara Municipal, mostram que dotações volumosas como “manutenção de sistemas de drenagem” e “intervenção em drenagem” sofreram as maiores quedas e representam a maior parte da redução do investimento na área. A única dotação que teve alta no último ano foi a de sistemas de monitoramento e alerta de enchentes.

Prefeito em exercício, o vereador Eduardo Tuma (PSDB) afirmou ontem pela manhã que “não havia ação preventiva que pudesse corrigir o que aconteceu”. O volume da chuva, disse, foi muito maior que o esperado.

‘Planejamento factível’. Em nota, a Prefeitura ressaltou que o orçamento para as rubricas relativas a ações preventivas contra enchentes para 2019 teve aumento de 21% em relação a 2018. “Trata-se de um esforço da gestão para fazer um planejamento factível e que possa ser cumprido.” A gestão destacou que, no ano passado, 56% dos recursos previstos foram empenhados e apontou que essa proporção era menor nos anos de 2016 e 2017.

Destacou ainda que, só entre janeiro e fevereiro, foram reformados 2.054 metros de galerias e limpos 367.742 m² de margens dos córregos. Em relação às microdrenagens, foram limpos 112.052 metros de galerias e ramais e 18.753 bocas de lobo. Dos piscinões, a Prefeitura limpou mais de 143,3 mil m² .

Ontem, o governador João Doria (PSDB) refutou que problemas causados pela chuva resultem de menos verba antienchente de quando era prefeito, de janeiro de 2017 a abril de 2018. “Não houve corte, houve reescalonamento, em face à disponibilidade de orçamento da prefeitura.” 

Despesas

0,7%

da receita total da cidade foi aplicada em obras e serviços de manutenção contra enchentes no ano passado.

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Doria promete aumentar nº de piscinões

Luciana Collet 

Isabela Palhares

12/03/2019

 

 

O governo de São Paulo e a Prefeitura prometem fazer uma ação conjunta para implementação de novos piscinões e minipiscinões, disse ontem o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Ele ainda lamentou as mortes e citou medidas de ação rápida para reduzir a tragédia, como a mobilização da Defesa Civil do Estado integrada com a Defesa Civil dos município, guardas-civis, Polícia Militar e bombeiros. “Houve mobilização total, temos 8,6 mil homens em estado de alerta e mais de 3 mil homens na Defesa Civil.”

Secretário estadual do Meio Ambiente, Saneamento e Energia, Marcos Penido destacou que no ano passado o governo investiu R$ 170 milhões em desassoreamento e R$ 47 milhões na limpeza de piscinões, principalmente no Rio Tietê e em outros 25 pontos da capital. Ainda segundo ele, o Piscinão Guamiranga, inaugurado em fevereiro de 2017, o 2.º maior da cidade, funcionou dentro do previsto, mas não deu conta do volume.

Penido reconheceu ainda recuo de gastos na área, mas culpou a “desastrosa gestão do governo nacional anterior” pela queda. “São Paulo ainda manteve capacidade de investimento, mas reduzida”, disse ele, que também afirmou que iria “aproveitar o momento” para um apelo pela reforma da Previdência para recuperar a economia.

A Secretaria de Transportes disse ter mobilizado uma forçatarefa para retomar a operação da Linha 10 da CPTM. Ainda conforme o Estado, equipes da Polícia Militar atuarão em pontos da zona sul, uma das principais áreas afetadas, para coibir crimes.