Título: À margem das eleições
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 25/09/2012, Mundo, p. 18

Entidade denuncia que normas impostas em 23 estados podem dificultar o voto de 10 milhões de latinos, em 6 de novembro

Quem acompanha a página oficial do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no microblog Twitter já percebeu que, quando não está pedindo doações ou trocando farpas com seu adversário republicano, Mitt Romney, o democrata se ocupa em alertar a seus eleitores para que se registrem. Obama sabe que essa atitude pode decidir as eleições. Mas uma cortejada fatia do eleitorado, a latina, encontra dificuldades para fazer isso. Um relatório divulgado ontem pela organização de proteção aos direitos civis Advancement Project (Washington) mostrou que até 10 milhões desses eleitores, naturalizados americanos, podem ser afetados por diretivas erguidas como barreiras para promulgar sua participação no pleito de 6 de novembro. Nos EUA, o voto não é obrigatório, mas as pessoas precisam se registrar antes de ir às urnas.

As normas restritivas foram verificadas em 23 dos 50 estados americanos (veja o quadro). Segundo o instituto, elas tratam os latinos, eleitorado que apoia em sua maioria os democratas, como "cidadãos de segunda classe". "O padrão é inconfundível. Estado após estado foram mudando suas regras para obstruir a capacidade de milhões de cidadãos latinos de participar de nossa democracia", afirmou ontem a co-diretora da organização Judith Browne Dianis. "Esse esforço conjunto mira os latinos e outros eleitores de cor, não apenas atingindo os princípios de proteção de igualdade garantidos em nossa Constituição, como também afetando um valor americano fundamental, o de que todos os cidadãos têm a mesma voz."

O estudo mostra que as políticas adotadas fazem exigências como a comprovação de cidadania para registrar o voto e a apresentação de documentos com foto antes de depositar a cédula nas urnas. As exigências e identificações adicionais custam caro para os cidadãos latinos, especialmente aqueles que se naturalizaram recentemente. Essa parcela da sociedade americana detém o mais alto índice de pobreza entre todos os grupos étnicos do país e, diante das dificuldades para obter a documentação extra, tendem a deixar o registro ou a participação nas urnas de lado, segundo o relatório.

Segundo o Censo de 2010 nos EUA, os latinos representam 10% dos cidadãos aptos a votar e 8% dos eleitores registrados, mas esse número pode subir muito mais, dependendo do estado. Em alguns deles, o número de afetados pelas medidas excedem a margem de vitória das eleições presidenciais de 2008. Na Flórida e no Novo México, por exemplo, eles representam, respectivamente, 26% e 38% dos eleitores aptos. O primeiro tem sido um dos swing states — locais que decidem seu voto somente na reta final da corrida — mais cortejados pelos republicados e pelos democratas. As dificuldades impostas aos hispânicos poderiam impedir uma vitória de Obama, o mais popular entre esse grupo.

Popularidade em alta A sondagem impreMedia/Latino Decisions divulgada ontem mostrou que a preferência pelo presidente atingiu seu mais alto nível, de 69% , em cinco semanas contra 24% de Romney, a mais baixa no mesmo período. Nos estados onde as barreiras jurídicas foram criadas, os republicanos controlam o Legislativo desde as últimas eleições, em 2010. O principal argumento é o de evitar fraudes eleitorais. No entanto, democratas contra-atacam e acusam uma mobilização para barrar eleitores que não costumam apoiar os republicanos.

Para Felipe Korzenny, diretor do Centro de Estudos de Comunicação de Marketing Hispânico da Universidade Estadual da Flórida, o presidente tem mais chances na briga pelos latinos, uma vez que Romney "aliena" grande parte dessa população. "Sua ideia de estimular os autodeportações dos hispânicos indocumentados é terrível e cínica. Americanos dependem desses imigrantes para a agricultura, a construção, os serviços etc. Agora, alguns políticos, incluindo Romney, simplesmente se viraram contra eles", afirmou. Obama, apesar de não adotar um discurso ideal, tem uma aproximação "mais humana e menos arrogante" a esse eleitorado, segundo Korzenny. "Por isso, ele terá a maioria do voto latino."

8% Parcela dos eleitores que são latinos registrados para votar em novembro, de acordo com o Censo de 2010 nos EUA.

Marines que urinaram sobre talibãs mortos são acusados Dois sargentos do corpo de fuzileiros navais norte-americanos foram acusados de suposto envolvimento no escândalo provocado por um vídeo divulgado na internet, no qual soldados são vistos urinando sobre os corpos de três afegãos (foto). As acusações contra os marines Joseph Chamblin e Edward Deptola são feitas um mês depois de outros três colegas terem sofrido sanções administrativas por seu envolvimento no incidente ocorrido na província afegã de Helmand em 27 de julho de 2011. No vídeo exibido em janeiro, um dos militares, aparentemente ciente de que estava sendo filmado, afirma: "Tenha um ótimo dia, amigo" referindo-se a um dos mortos.