O Estado de São Paulo, n. 45812, 23/03/2019. Economia, p. B3

 

Entrevista - Eduardo Garrido: 'Comandante tem que ter as tropas na mão'

23/03/2019

 

 

Segundo general, houve insatisfação nas redes sociais, mas nos níveis institucionais nada sairá da normalidade

O assessor especial do Ministério da Defesa, general Eduardo Garrido, afirma que os militares já foram submetidos a um sacrifício muito grande. Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro, de carreira militar, é muito mais sensível às demandas da categoria, mas reconhece que o Congresso poderá fazer ajustes na proposta. Para o general, os comandantes “precisam ter as tropas na mão”.

A Força Militar vai reagir se o Congresso retirar do projeto a parte da remuneração?

As Forças Armadas têm como seus princípios a hierarquia e disciplina. Fizemos os nossos estudos com uma coerência do que é importante para nós e encaminhamos ao Congresso, que é soberano. O nosso papel será mostrar para eles que a separação traz prejuízos por conta das legislações serem muito interligadas. Ajustes poderão ser feitos.

 

Mas vocês não esperam uma desidratação total?

Na nossa visão, não seria adequada uma desidratação desse tipo. Aí, perde a essência de um projeto que é a reestruturação da carreira. Para os nossos comandantes, é uma situação complexa. Eles têm que manter os princípios da hierarquia e da disciplina. São os principais fiadores desse processo. Eles precisam ter as tropas na mão. E nós estaremos impondo mais sacrifício a essas tropas. O que nós estamos mostrando é caracterizar “Olha, nós temos um sacrifício, mas veja que esse sacrifício está sendo imposto a todos nós. Quando você olha a progressão dentro da carreira, vai ver que isso será recomposto”. Hoje, quando se faz uma avaliação, o sacrifício é muito grande.

Mas tem risco de uma revolta?

Falar a palavra revolta é muito forte. Nós verificamos no próprio processo, quando houve um vazamento, tivemos nas redes sociais uma série de pessoas se manifestando em relação às insatisfações. Mas nós acreditamos que, no nível institucional, os comandantes vão estar atuando dentro dos princípios que regem nosso comportamento para que não saia da normalidade. Esse é principal ponto e vai acontecer.

Os militares podem manifestar insatisfação nas redes sociais?

Dependendo do tipo da insatisfação manifestada, pode ser considerada uma quebra de hierarquia. Nós somos regidos pelos nossos regulamentos.

Como mostrar que os militares não estão tendo tratamento diferente em relação aos demais?

As Forças Armadas são um seguro da Nação. Temos peculiaridades. Não fazemos jus a hora extra, adicional noturno, tiramos serviço por 24 horas. Eu sei que é difícil, mas você já pensou se os comandantes – estou elucubrando uma ideia – dizem “olha, eu não posso cumprir uma missão de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) porque eu não tenho dinheiro”? Acaba a essência de ser uma Força Armada.

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Remuneração de militar sobe até 35%

23/03/2019

 

 

A alta na remuneração dos militares ficará entre 5% e 35% ao longo de quatro anos com a proposta enviada ao Congresso, disse ao ‘Estadão/Broadcast’ o assessor especial do Ministério da Defesa, general Eduardo Garrido. Segundo ele, os porcentuais mais elevados devem incidir sobre os maiores postos da carreira, como coronel. “Depende de como ele está posicionado na carreira”, disse. “A reestruturação foi proposta em quatro anos, é processo gradativo.”