Valor econômico, v.20, n.4800, 25/07/2019. Finanças, p. C1

 

FMI vê volume de reservas do Brasil como adequado 

Sergio Lamucci 

25/07/2019

 

 

O nível de reservas internacionais do Brasil é "adequado para cobrir um amplo conjunto de riscos", segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O volume é visto como apropriado com base na métrica do Fundo de avaliação de recursos em moeda forte dos países, medida que leva em conta a dívida de curto prazo, as exportações, os meios de pagamento ampliados e outras obrigações, como aplicação em títulos e ações.

Em março de 2019, quando estavam em US$ 384 bilhões, elas equivaliam a 165% da métrica do FMI, "levemente acima do intervalo tido como apropriado", de 100% a 150%, e da média dos mercados emergentes, de 140%. "Apesar disso, em comparação com o PIB, o Brasil historicamente teve menos reservas que outros emergentes e atingiu a mediana [do grupo desses países] de 20% do PIB apenas depois de 2015", diz o Fundo, em relatório divulgado na terça-feira à noite. Hoje, as reservas equivalem a um pouco mais de 20% do PIB.

Na visão do Fundo, elas também seriam relativamente baixas na comparação com o chamado M2, uma das categorias dos meios de pagamento ampliados, que inclui papel moeda em poder do público, depósitos à vista, depósitos especiais remunerados, depósitos de poupança e outros títulos. O M2 é usado por ser visto como uma aproximação da fuga potencial de capitais de um país. A métrica de adequação de reservas do FMI tenta capturar os riscos relativos de possíveis fontes de pressão sobre o balanço de pagamentos, caso da dívida de curto prazo, das obrigações como títulos e ações, das exportações e do M2.

"Grandes amortecedores aumentam a resistência", diz o Fundo. "Com uma incerteza persistente sobre a sustentabilidade da dívida pública, o baixo crescimento e potenciais reversões dos fluxos de capitais, manter um nível adequado de reservas internacionais é essencial para o país reduzir a sua vulnerabilidade", aponta o FMI no raio-X anual sobre a economia brasileira. "O Brasil pode ser afetado por um aperto nas condições globais financeiras assim como por choques sobre os termos de troca [a relação entre os preços de exportação e importação] e deve manter reservas para motivos de precaução."

Alguns analistas consideram as reservas brasileiras elevadas demais, apontando o próprio fato de superarem a métrica de adequação do FMI. O maior problema é o custo elevado de mantê-las, dada a diferença entre os juros externos e internos. O Fundo, porém, considera o volume atual apropriado.

No relatório, a instituição observa que as reservas ficaram em grande medida estáveis nos últimos oito anos. Entre 2005 e 2011, o Brasil recebeu fluxos de capitais expressivos, com melhora dos termos de troca, com os investimentos estrangeiros diretos indo de US$ 12 bilhões a US$ 86 bilhões e os fluxos de carteira (para ações e renda fixa) de US$ 5 bilhões a US$ 41 bilhões, diz o FMI. "As reservas subiram de US$ 50 bilhões a US$ 350 bilhões." Segundo o Fundo, "apesar da deterioração dos termos de troca e de pressões sobre o câmbio, as reservas permaneceram ao redor de US$ 365 bilhões (média de 17% do PIB), enquanto o seu custo líquido de carregamento declinou consideravelmente no período." O ponto é que os juros no Brasil caíram nos últimos anos, reduzindo a distância em relação às taxas externas, que remuneram as reservas. Hoje, se aproximam de US$ 387 bilhões.