Estado de São Paulo, n. 45816, 27/03/2019. Política, p. A10

 

Procuradoria reforça base da Lava Jato no Rio

 

 

 

 

 

Wilson Tosta

27/03/2019

 

 

 

A força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio vai ser reforçada com três novos procuradores, informou a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em reunião com integrantes do grupo ontem no Rio. Ficou acertado que dois deles terão dedicação exclusiva à ação e o terceiro atuará parcialmente.

O reforço atende a pedido da força-tarefa e amplia a capacidade de investigação da Procuradoria no Estado, onde são julgados desdobramentos da Lava Jato. Envolvem corrupção em empresas estatais, como a Eletronuclear, desvios de verbas federais destinadas a obras no Estado desde 2007 e irregularidades na administração estadual do hoje MDB – antes, PMDB.

O principal alvo da força-tarefa da Lava Jato no Rio, até agora, foi o esquema de corrupção que era chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB). Ele foi preso em novembro de 2016, na Operação Calicute e, desde então, não saiu mais da cadeia. Já foi denunciado 29 vezes – quase todas pela Lava Jato no Rio – e condenado em nove ações. Suas penas somam perto de 200 anos de cadeia. Recentemente, Cabral confessou crimes, em aparente estratégia para conseguir futuros benefícios, em feitos não julgados.

 

Angra 3. A mais recente iniciativa da força-tarefa no Rio foi o pedido de prisão do ex-presidente Michel Temer, do ex-ministro Moreira Franco e de outros suspeitos. Eles são investigados por supostos desvios na Eletronuclear, nas obras de construção da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis, no litoral sul fluminense. O juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, acolheu o pedido na quinta-feira passada.

Todos os oito investigados que ainda estavam detidos foram libertados anteontem por liminar concedida pelo desembargador Antonio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2). Ele considerou que as condições para a prisão preventiva não tinham sido atendidas. No fim de semana, a desembargadora Simone Schreiber, plantonista no TRF2, já tinha libertado dois presos temporariamente. Fundamentou sua decisão em argumentos semelhantes. As decisões de libertar os alvos da Operação Descontaminação serão julgadas pela 1.ª Turma Especializada do TRF-2, em data a ser marcada.

Criada em 2016, a força-tarefa do Rio já conseguiu a condenação de 40 pessoas. Tem 11 procuradores e apresentou 50 denúncias contra 302 suspeitos de 19 crimes, como fraude em licitações, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa, evasão de divisas, tráfico de influência, peculato, contrabando e sonegação fiscal.