Correio braziliense, n. 20451, 19/05/2019. Política, p. 3

 

"Eu apenas passei para meia duzia de pessoas"

Rodolfo Costa

19/05/2019

 

 

Poder » Depois de compartilhar texto que classifica o Brasil como “ingovernável fora dos conchavos”, Bolsonaro evita qualquer mea-culpa sobre o aumento da tensão com o Congresso

O presidente Jair Bolsonaro continua trilhando o caminho de embate com o Congresso sem se eximir de qualquer culpa em relação ao mau relacionamento com o Congresso. Depois de ter compartilhado com amigos pelo WhatsApp na sexta-feira um texto que classifica o Brasil como “ingovernável fora dos conchavos”, o chefe do Executivo federal minimizou ontem a situação sem fazer qualquer mea-culpa após ampliar a tensão com os parlamentares.

Na manhã de ontem, ao ser questionado pela imprensa em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro sugeriu que os jornalistas questionem o autor, Paulo Portinho, sobre a publicação compartilhada por ele. “O texto? Pergunta para o autor. Eu apenas passei para meia dúzia de pessoas”, declarou, sem responder questionamentos do desconforto causado a líderes partidários. Lideranças acusam o presidente de continuar tratando-os como inimigos.

Vestindo camisa da Seleção Brasileira de futebol, com o número 17 e o sobrenome grafados, short e chinelo, Bolsonaro se dirigiu em seguida a crianças que o aguardavam na porta do Palácio. Abraçou várias delas e perguntou se elas o acham “um cara legal” e se gostam dele. Durante cerca de 15 minutos em que ficou conversando com as crianças, disse que trabalha para ajudar as pessoas. “Meu sonho de ser presidente é para ajudar o Brasil. Tem muita gente ruim no Brasil, sabia? Mas o bem sempre vence o mal”, declarou, dizendo, ainda, que “uma coisa muito importante é a verdade.” A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o acompanhou.

O presidente questionou, ainda, o que elas gostariam que ele fizesse para o Brasil e sugeriu que obedeçam “primeiro papai e mamãe” e, depois, as professoras “que ensinam coisas importantes, como português e tabuada”. O presidente tirou fotos com um grupo de crianças entre 4 a 12 anos da Escola Classe do SRIA, do Guará, que fazia um passeio em pontos turísticos pela cidade. Bolsonaro prometeu ir algum dia à escola para hastear a bandeira e cantar o Hino Nacional com elas. “Ele está querendo ir. Disse que a assessora vai marcar”, afirmou a vice-diretora da instituição educacional, Cárita Alessandra Sá, responsável pelas 108 crianças que foram ao local em dois ônibus.

Multas

O encontro de Bolsonaro com as crianças foi acompanhado de perto pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Conselheiro do presidente, o general evitou comentar o texto compartilhado. Os ministros palacianos estão preocupados com o relacionamento entre governo e Congresso e trabalham junto ao presidente o aprimoramento do diálogo.

Uma estratégia do governo para sinalizar uma relação melhor foi tomada na sexta-feira, quando Bolsonaro sancionou projeto de lei que livra partidos políticos de multas acumuladas em cerca de R$ 70 milhões por não destinar o mínimo de 5% do Fundo Partidário para promover a participação política das mulheres, entre 2010 e 2018. A assinatura, no entanto, não convenceu os parlamentares, uma vez que o projeto vencia na sexta e estava para ser sancionado taticamente, ou seja, quando o presidente da República não decide 15 dias após ser enviado pelo Congresso.