Correio braziliense, n. 20451, 19/05/2019. Cidades, p. 19
Carros elétricos guiam o DF à sustentabilidade
Darcianne Diogo
Jéssica Eufrásio
19/05/2019
Como forma de complementar as opções disponíveis na área de mobilidade urbana no Distrito Federal, os brasilienses terão acesso a mais uma forma de locomoção. O Executivo local, por meio das secretarias de Ciência, Tecnologia e Inovação e de Projetos Especiais, assinou uma parceria com empresas que oferecerão carros elétricos compartilhados. Inicialmente, a empreitada contará com 20 veículos, exclusivos para funcionários do GDF. A partir do segundo semestre, essa quantidade subirá para 50, e o uso contemplará a população.
A proposta agrada a analista de sistemas Carolina Guimarães, 38 anos. “Eu adoraria dirigir um veículo desses. Toda alternativa de modernização que tenha a intenção de melhorar a vida do cidadão é bem-vinda”, elogia. Ela acredita que a novidade causará efeitos positivos para o bolso. “Quem sabe o preço não seja mais barato do que o da gasolina”, afirma. Ela usa um carro próprio diariamente para se deslocar do Guará até a Asa Sul, onde trabalha. Por mês, são mais de R$ 180 em combustível.
O programador de sistemas Webster Alan Ferreira, 26, também recorre ao ônibus para ir trabalhar. Todos os dias, ele sai do Riacho Fundo 2 com destino ao Setor Bancário Sul, o que resulta em, aproximadamente, mais de R$ 250 por mês. Segundo ele, a proposta dos carros elétricos diminuiria esses custos. “Pelo que observo, é uma forma de transporte mais prática que me ajudaria no deslocamento”, disse.
A novidade, entretanto, deixa alguns em dúvida. É o caso do técnico em segurança do trabalho Jânio Passos, 34. Ele considera que a capital ainda não está preparada para essa tecnologia. “Não há estacionamento para carros comuns, quem dirá para os elétricos”, compara. Ele também questiona a responsabilidade que a população terá sobre o veículo. “A ideia é boa, mas, para ser implementada, é preciso haver capacitação”, observa.
Metas
O governador Ibaneis Rocha anunciou a novidade na sexta-feira, em cerimônia no Palácio do Buriti. “Instalaremos pontos de tomada, onde os carros ficarão parados, como as patinetes eletrônicas. (Basta) entrar no site, fazer o cadastramento e, com o número e o aplicativo, utilizar o veículo, como (ocorre com) a bicicleta compartilhada”, detalhou. Entre as empresas e organizações envolvidas, há a Itaipu Binacional, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a BMW, que assinou contrato de comodato com o GDF para oferecer 26 veículos elétricos aos secretários do Executivo.
A iniciativa é um passo no caminho da sustentabilidade. Até 2030, o Brasil precisa cumprir os 17 objetivos da agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) para o desenvolvimento sustentável. As metas passam pela redução da emissão de gases na atmosfera por meio da adoção de modelos favoráveis ao meio ambiente. Para Rudi Henri Van Els, professor do curso de engenharia de energia da Universidade de Brasília (UnB), carros elétricos compartilhados podem funcionar como nicho de mercado.
Renault Twizy
» Uso compartilhado da população
» Número de lugares: 2
» Autonomia: 80 km
» Potência máxima/rotações:
17 cavalos/2,1 mil rpm
» Velocidade máxima: 80km/h
» Aceleração 0-45 km/h: 6,1 segundos
» Tempo de carregamento: de 40 a 60 minutos
» Pneus: Continental Eco contact, aro 13
BMW i3
» Uso exclusivo de secretários
» Potência máxima/rotações: 170 cavalos/4,8 mil rpm
» Velocidade máxima: 150km/h
» Autonomia elétrica real: 200 km
» Aceleração 0-60 km/h: 3,8 segundos
» Tempo de carregamento (carregamento rápido DC):
39 minutos
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Sem custos para o GDF
19/05/2019
O professor Rudi Henri, da UnB, lembra que o país se tornou referência ao apostar na conversão de carros movidos a gasolina para álcool, na década de 1970. “Pouca gente dá importância a esse feito. Se houver vontade e visão a longo prazo, é possível fazer a mesma coisa com os modelos elétricos. Há mais de 10 anos, há tecnologia daqui, desenvolvida pela Itaipu Binacional. A empresa montou uma fábrica para converter veículos convencionais em elétricos, que foi a primeira iniciativa mais robusta. Vamos precisar de investimentos para apoiar a tecnologia nacional”, ressalta.
Os eletropostos para retirada dos carros compartilhados ficarão, de início, dispostos nos estacionamentos de quatro ministérios, da Câmara dos Deputados e do Senado. Posteriormente, a expectativa do governo é levar esses pontos para outras partes do DF. “Recebemos a doação de 50 eletropostos. Em 60 dias, chegamos a 100, e levaremos para as outras regiões administrativas. A BMW soube desse movimento e ofereceu o comodato para o secretariado. Não haverá custos para o governo. No futuro, o governo verá como incentivar (o uso de carros elétricos) e trazer indústrias”, explicou o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Gilvan Máximo.
Para o cinegrafista Luiz Carlos Rodrigues, 44, não será difícil para que os brasilienses se adaptem. “A cidade tem capacidade para abrigar esses carros, e isso facilitaria a economia de combustível, porque o alto preço da gasolina é o que derruba. Com certeza, eu usaria (o serviço)”, ressalta.