O Estado de São Paulo, n. 45817, 28/03/2019. Política, p. A8

 

Presidente e Maia mantêm confronto

Renata Agostini

Camila Turtelli

Naira Trindade

Daniel Weterman

28/03/2019

 

 

Jair Bolsonaro e presidente da Câmara dos Deputados trocam insultos mais uma vez; parlamentar faz um apelo: ‘Chega, vamos governar’

Crise. Rodrigo Maia durante sessão no plenário da Câmara ontem; deputado reagiu após Bolsonaro dizer que ele estaria ‘abalado com questões pessoais’

Os presidentes da República, Jair Bolsonaro, e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltaram a trocar insultos ontem ampliando a escalada de atritos iniciada na semana passada. Após afirmar que Bolsonaro está “brincando de presidir o Brasil”, Maia pediu um basta na troca de provocações. Pouco antes, o presidente afirmou que Maia desferira ataques ao governo por estar “abalado” por questões pessoais – em referência à prisão do ex-ministro Moreira Franco, que é padrasto da mulher do deputado.

“Faço um apelo ao presidente para que pare, chega. Peça ao entorno para parar de criticar, pare de criticar. Vamos governar: eu, a Câmara e ele, o País. Chega”, disse na noite de ontem. Tentando pôr fim à discussão, Maia afirmou que só falará com jornalistas a partir de agora sobre a reforma da Previdência. “É natural que quando se faz uma crítica tenha uma reação, mas vamos parar”, disse. •

O atrito entre os dois, que se arrasta há dias, teve novo lance ontem após Bolsonaro insinuar, em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, que Maia só desferira ataques ao governo por estar “abalado” por questões pessoais – repetindo o que já havia falado na semana passada, em viagem ao Chile.

No Congresso, ao saber da declaração de Bolsonaro, Maia reagiu, disse que o País precisa de “um presidente funcionando” e pediu o fim da “brincadeira”. “Abalados estão os brasileiros que esperam desde janeiro que o Brasil comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando de presidir o Brasil”, afirmou o deputado. “Está na hora dele (Bolsonaro) sentar na cadeira e, em conjunto, resolvermos os problemas do Brasil.”

Maia ressaltou que defende como prioridade a reforma da Previdência para a recuperação da economia. “Vamos parar de brincadeira e vamos tratar de forma séria, o Brasil precisa de um presidente funcionando. Precisamos que o governo do Bolsonaro dê certo, gere empregos.”

Avisado sobre a resposta dada por Maia, Bolsonaro retrucou. De São Paulo, classificou como irresponsável a declaração do presidente da Câmara. “Se foi isso mesmo que ele falou, lamento. Não é uma palavra de uma pessoa que conduz uma Casa. Muita irresponsabilidade”, afirmou, após participar de encontro com empresários e artistas na casa do fundador da Cyrela, Elie Horn. “Não existe brincadeira da minha parte, muito pelo contrário. Lamento palavras nesse sentido. Até quero não acreditar que ele tenha falado isso”, declarou.

Pressionado pelo Congresso a mudar a articulação na reforma da Previdência, o presidente insistiu que sua maneira de governar é respeitando, “acima dos colegas políticos, o povo brasileiro que me botou lá”. Bolsonaro declarou que a reforma da Previdência não é um projeto seu, mas do País, pela necessidade fiscal. “A responsabilidade é de todos. Não é minha apenas, do presidente da Câmara. É de todos nós aprovar essa e outra reforma que temos de fazer na questão tributária.”

‘Desnecessário’. Em encontro com empresários anteontem, em Brasília, Bolsonaro afirmou que só entrou em confronto com Maia porque precisou reagir a ataque “desnecessário” feito a um de seus ministros. O presidente se referia às críticas feitas pelo deputado ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, que cobrou celeridade na aprovação do projeto anticrime.

Segundo relato de um dos presentes, Bolsonaro voltou a dizer que não entende a postura de Maia e reiterou que não cederá ao Congresso na negociação de cargos. Os empresários, que representam o movimento Brasil 200 e estiveram em Brasília para entregar manifesto a favor da reforma da Previdência, pediram a Bolsonaro que intensifique o diálogo com o Parlamento para que a mudança nas aposentadorias possa ser aprovada.

O presidente disse que está disposto a conversar, mas reafirmou que a articulação política não envolverá aceitar indicações políticas para vagas no governo. Segundo ele, a postura será mantida, pois não quer ir “jogar dominó” com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer na cadeia.

Bolsonaro pediu que os empresários ajudem no convencimento dos parlamentares sobre a reforma da Previdência e incentivou o grupo a procurar os deputados. O encontro, no qual estavam presentes nomes como Flávio Rocha, da Riachuelo, e Luciano Hang, da Havan, foi acompanhado pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, e sucedeu a almoço com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Onyx decidiu abrir o diálogo com os presidentes dos partidos. Ele ligou ontem para Ciro Nogueira (PP), ACM Neto (DEM), Marcos Pereira (PRB) e o dono do PR, Valdemar Costa Neto. As conversas terão início a partir da semana que vem, quando Bolsonaro retornará da viagem a Israel./  RENATA AGOSTINI, CAMILA TURTELLI, NAIRA TRINDADE e DANIEL WETERMAN

Discussão

“Maia está abalado com questões pessoais que estão acontecendo na vida dele. Não quero entrar em detalhes. Questões pessoais que passam pelo estado emocional dele.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

“Abalados estão os brasileiros que esperam desde janeiro que o Brasil comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando de presidir o Brasil.”

Rodrigo Maia (DEM-RJ)

PRESIDENTE DA CÂMARA

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Bolsonaro está em 'excelentes condições'

Mariana Haubert

Daniel Weterman

28/03/2019

 

 

O hospital Albert Einstein informou ontem em boletim médico que Jair Bolsonaro está em “excelentes condições clínicas”. O presidente esteve em São Paulo, onde passou por uma bateria de exames para avaliar sua evolução após a cirurgia realizada para retirar a bolsa de colostomia usada em decorrência da facada que levou durante a campanha eleitoral, em setembro passado.

De acordo com o hospital, Bolsonaro foi submetido à avaliação “multiprofissional”. Ele realizou teste ergoespirométrico para prescrição dos exercícios físicos e recebeu orientações em relação à dieta. O presidente deixou o hospital no início da noite e foi a evento em prol da União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes) com a primeira-dama Michelle Bolsonaro, na residência do fundador da Cyrela, Elie Horn, no Morumbi.

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Entreista - Floriano Amoria: 'É um erro não reconhecer a força digital'

Vera Rosa

Leonencio Nossa

28/03/2019

 

 

Prestes a deixar a Secretaria de Comunicação (Secom), Floriano Amorim afirmou ontem que o governo fará intensa campanha publicitária para obter apoio à reforma da Previdência a um custo seis vezes menor do que no governo de Michel Temer. Pelas suas contas, a propaganda para “vender” as mudanças na aposentadoria custará, na gestão de Jair Bolsonaro, cerca de R$ 30 milhões, enquanto, sob Temer, ficou em R$ 181 milhões.

Amorim será substituído pelo empresário Fábio Wajngarten, especialista em comunicação, num momento em que a Câmara tenta enquadrar o governo e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avisa que o Planalto precisa “sair do Twitter”, se quiser conquistar votos no Congresso. “É um erro não reconhecer a força das mídias digitais”, disse o publicitário.

Por que o sr. está deixando a Secom?

Eu pedi afastamento, mas continuo acreditando muito no presidente Bolsonaro. Estou 100% fechado com ele. Cumpri minha missão de identificar problemas e contratos que oneravam muito o governo. Dou um exemplo: antes, seis filmetes, com algumas empresas contratadas, tinham custo médio de R$ 350 mil. Em pouco mais de um mês de atividade, organizamos mais de 40 vídeos a preço de salário (de servidor). Isso deve incomodar (as agências de publicidade).

Houve pressão de fora?

Cito João 8:32: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

A popularidade do presidente caiu. O envolvimento do vereador Carlos Bolsonaro e do escritor Olavo de Carvalho nas redes sociais atrapalha o governo?

É uma questão particular de cada um deles e eu não gostaria de tecer comentários. A minha relação é ótima tanto com o Carlos Bolsonaro quanto com Olavo de Carvalho. São pessoas que trabalham fortemente pelo País.

Quanto custará a campanha publicitária da nova Previdência?

Asseguro que não está passando da casa dos R$ 30 milhões. Não tenho responsabilidade pela campanha passada (governo Temer), quando foram gastos R$ 181 milhões.

Mas o novo valor é só para internet?

Não. Inclui internet, TV, rádios, mídias regionais, mas utilizando recursos públicos. Uma pesquisa mostrou que 70% da população passa de oito a nove horas no celular. Então, é um erro não reconhecer a força das mídias digitais. É preciso que haja um pacto pelo País em torno da nova Previdência.