O Estado de São Paulo, n. 45817, 28/03/2019. Economia, p. B1

 

Guedes diz que não tem apego a cargo, mas que não sairá na primeira derrota

Idiana Tomazelli

Eduardo Rodrigues

28/03/2019

 

 

“Tiros”. Em audiência no Senado, ministro da Economia reclamou dos ataques vindos da base aliada e admitiu que “o principal opositor do governo é ele mesmo; fala de Guedes não reverteu mau humor do mercado: dólar atingiu o maior valor desde o período eleitoral

Com a articulação pela reforma da Previdência na berlinda e um dia após ter sofrido derrota na Câmara (com aprovação de proposta que engessa ainda mais o Orçamento), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou não ter apego ao cargo. E que pode sair, caso nem o presidente Jair Bolsonaro nem o Congresso apoiem as medidas de sua equipe. Porém, disse estar disposto a insistir: “Não terei a irresponsabilidade de sair na primeira derrota”.

Em um debate de cinco horas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Guedes admitiu que “o principal opositor do governo é ele mesmo” e reclamou dos “tiros nas costas” que tem levado de parlamentares do PSL, partido de Bolsonaro. Nos últimos dias, integrantes da legenda – dona da maior bancada da Câmara, com 54 deputados – têm disparado críticas à proposta de reforma dos militares e à articulação do governo.

Ele atribuiu os “tiros” à decisão de adiar sua participação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, a primeira parada da reforma da Previdência. A audiência, prevista para terça passada, acabou ficando para 3 de abril. “Às vezes, você avança 10 metros e, quando vê, levou um balaço de gente que é nossa mesmo.”

A presença de Guedes no Senado não reverteu o mau humor do mercado, que abriu o dia repercutindo a aprovação do texto que tira do Executivo autonomia para contingenciar gastos. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em queda de 3,57%. O dólar subiu 2,24%, para R$ 3,9543, o maior valor desde 1.º de outubro de 2018.

Diante das incertezas em torno da reforma da Previdência, Guedes disse que está no governo para apresentar suas ideias, mas não brigará para ficar no cargo. Embora confiante na aprovação da proposta, ele deu o recado de que tem uma vida fora do governo.

“Se o presidente apoiar as coisas que eu acho que podem resolver o Brasil, eu estarei aqui. Agora, se ou o presidente, ou a Câmara, ou ninguém quer aquilo, eu vou obstaculizar o trabalho dos senhores? De forma alguma. Eu voltarei para onde sempre estive”, disse. “Eu estou aqui para servi-los. Se ninguém quiser o serviço, vai ser um prazer ter tentado.”

Reclamações. Na CAE, Guedes ainda ouviu reclamações de senadores que afirmaram não ter interlocução com a principal autoridade econômica do governo. Apesar de alguns embates, auxiliares do ministro avaliaram que a participação na CAE foi positiva e serviu de teste para a batalha que será travada na semana que vem, na CCJ da Câmara. A expectativa, porém, é encontrar um ambiente menos conflagrado do que nesta semana.