O Estado de São Paulo, n. 45833, 13/04/2019. Economia & Negócios, p. B1

 

Petrobrás perde R$ 32 bi na bolsa após Bolsonaro intervir em reajuste do diesel

13/04/2019

 

 

 

Presidente cede a pressão dos caminhoneiros e determina suspensão de aumento de 5,7%; ações da estatal caíram 8,5% ontem

 

Uma decisão do presidente Jair Bolsonaro colocou a Petrobrás ontem no meio de um vendaval. As ações ordinárias (com direito a voto) da empresa fecharam em queda de 8,5% depois de Bolsonaro determinar, na noite de quintafeira, que a empresa voltasse atrás no reajuste de 5,7% no preço do óleo diesel anunciado mais cedo. A decisão deixou o mercado financeiro em polvorosa, já que a promessa do governo era de que a estatal não sofreria mais intervenção política, apontada por todos os analistas como a causa principal dos problemas enfrentados pela empresa nos governos petistas. Ontem, a petroleira perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado.

“Eu liguei para o presidente (da Petrobrás) sim. Me surpreendi com o reajuste de 5,7%. Não vou ser intervencionista. Não vou praticar a política que fizeram no passado, mas quero os números da Petrobrás”, afirmou Bolsonaro ontem. A decisão, aparentemente, não foi combinada com a equipe econômica. Em Washington, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao ser perguntado sobre o assunto, disse ter passado o dia inteiro em reunião e que não tinha “informação suficiente”. Diante da insistência de jornalistas e da sugestão de que ele não foi informado sobre a interferência nos preços, o ministro respondeu: “É uma inferência razoável, aparentemente.”

A intervenção do presidente no reajuste do diesel foi fruto direto da pressão dos caminhoneiros. Foi exatamente a política de reajuste de preços da Petrobrás que levou à greve dos motoristas de caminhão no ano passado, com efeitos terríveis para a economia. Agora, o governo quer evitar que isso se repita. Vem, por isso, cedendo aos pedidos feitos pelos caminhoneiros. Anunciou, por exemplo, o envio de um projeto elevando de 20 para 40 pontos de infrações o limite para um motorista ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa. Essa foi uma reivindicação apresentada durante a greve. E os caminhoneiros já levaram ao governo uma nova pauta de reivindicações (ver página B3).

O problema, para o mercado, é que esse tipo de atitude em relação à Petrobrás é completamente contrário à cartilha liberal pregada por Guedes. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a intervenção foi vista dentro da equipe econômica como “catastrófica”, lembrando a gestão do PT “em seu pior momento”.

Em nota ontem, o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco disse que Petrobrás “é uma empresa completamente autônoma para a tomada de decisões”. Mas disse ter considerado “legítima a preocupação do presidente (Bolsonaro)” com o reajuste. Ao não elevar o preço do diesel, porém, a empresa perde R$ 13 milhões por dia, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIEE).

Ontem, a secretaria de Comunicação da Presidência informou que o governo realizará, na próxima segunda-feira, uma reunião interministerial na Casa Civil para tratar dos aspectos técnicos sobre a política de preços para os combustíveis.