O Estado de São Paulo, n. 45820, 31/03/2019. Economia, p. B3
Confiança em aprovação sofre abalo
Mônica Scaramuzzo
Fernando Scheller
Renata Agostini
31/03/2019
Após três meses de governo, empresários renovam apoio à proposta para Previdência, mas temem dificuldade com articulação política
Três meses após o início do governo de Jair Bolsonaro (PSL), o voto de confiança do empresariado na aprovação da reforma da Previdência, que era irrestrito, passou a ser relativo. O ‘Estado’ conversou com mais de uma dezena de executivos e donos de empresas que renovaram o apoio ao texto do governo. Mas eles temem que o Executivo não tenha condições de angariar votos suficientes para aprovar as mudanças necessárias para que o País volte a atrair investimentos e retome o crescimento.
O apoio à proposta continua firme, mas há frustração com a paralisia em Brasília. “Há uma preocupação empresarial com essa crise institucional”, diz Pedro Passos, acionista da Natura, referindo-se ao bate-boca entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na semana passada. Para Flávio Rocha, dono da Riachuelo e um dos líderes do Instituto Brasil 200, o governo precisa abandonar o tom belicoso da campanha de 2018. “Agora é preciso aglutinar todos a favor da reforma.”
Outro aliado do governo, o dono da varejista Havan, Luciano Hang, diz que deputados e senadores precisam ter clareza da gravidade da situação: “Sem a reforma da Previdência, o Brasil quebra. E ninguém vai querer investir em um país quebrado.” Hang afirma esperar a aprovação da reforma para colocar em pé investimentos de R$ 3 bilhões até 2022 para expansão de sua rede. No fim do ano passado, havia anunciado aporte de R$ 500 milhões para 2019.
A união em torno da reforma da Previdência é vital, na visão de Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), para que o País passe a oferecer algo que não conseguiu estabelecer nos últimos anos: a sensação de previsibilidade da política econômica. “Ainda não está claro como seguirá a relação entre Executivo e Legislativo. A aprovação relâmpago da PEC do orçamento impositivo deixou evidente a desarticulação do governo.”
O presidente da gigante da celulose Suzano, Walter Schalka, diz ter sido bombardeado na semana passada por investidores chineses e americanos sobre a crise. “O Brasil precisa de novos investimentos. Quem ainda não está aqui, não vai colocar dinheiro no País agora diante dessas incertezas.”
Frágil. Segundo Antônio Carlos Pipponzi, acionista da Raia Drogasil e presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), a bolha de euforia criada pela escolha da equipe econômica – capitaneada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes – foi furada pela dificuldade de articulação do governo no Congresso. “Existe uma frustração, pois o apoio do Congresso se mostrou frágil e a aprovação da reforma, mais difícil do que se imaginava”, afirma.
PONTOS DE VISTA
Pedro Passos
Sócio da Natura
“Existe uma preocupação empresarial com a crise institucional criada. Se a reforma da Previdência não for aprovada, todo o restante da agenda econômica ficará comprometido.”
Walter Schalka
Presidente da Suzano
“Entendo que o governo está em estágio de aprendizado. Não tinha experiência com o Legislativo e com a máquina do Estado. O Congresso tem de entender que a reforma é importante para o País.”
Flávio Rocha
Dono da Riachuelo
“O saldo das propostas do governo é, até agora, extremamente positivo. O único desejo é que se saia do modo campanha para o modo governo. É preciso aglutinar todos os que são a favor da reforma.”
Pedro Wongtschowski
Presidente do Iedi
“O Brasil tem uma agenda enorme que precisa ser destravada. É preciso que haja consenso para discutir ações importantes, como privatização e investimentos em infraestrutura.”
Rubens Menin
Dono da MRV
“Bolsonaro mantém o voto de confiança dos empresários. Temos de torcer, ajudar muito. Pelo momento do Brasil, a política vai ser muito importante. O superministério de Guedes é essencial.”
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Fundos têm US$ 6 bi trabados, à espera da reforma da Previdência
Altamiro Silva Júnior
Cynthia Decloedt
31/03/2019
Trata-se do volume mais alto desde 2011 e de um crescimento de 267% em relação ao ano anterio
Os fundos de private equity, que compram participações em empresas, estão com apetite reforçado para o Brasil. Eles captaram US$ 6 bilhões para investir em companhias brasileiras em 2018. É o volume mais alto desde 2011 e representa alta de 267% em relação ao ano anterior, segundo a Emerging Market Private Equity Association (Empea), associação que monitora o setor.
Além deste montante, Pátria, Gávea e Kinea têm fundos em fase de captação. A avaliação de profissionais ouvidos pelo Estadão/Broadcast é que esses recursos só se transformarão em investimentos com a aprovação da reforma da Previdência.
Nos últimos anos, em meio à recessão e à crise política, os fundos reduziram tanto a captação quanto os investimentos. Em 2016, eles conseguiram levantar apenas US$ 800 milhões, valor que subiu para US$ 1,6 bilhão em 2017. No ano passado, com a perspectiva de avanço das reformas, as carteiras voltaram a atrair investidores e gestoras.
“Ainda existe uma onda de wait and see (esperar para ver). Houve primeiro um alívio com o fim das eleições e nomeação de cargos do governo. Agora há um segundo passo, ligado à retomada da economia, vindo mais devagar do que se esperava”, diz Piero Minardi, presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap) e sócio-diretor da Warburg Pincus do Brasil.
Fernando Borges, diretor do fundo Carlyle, diz que, embora as captações tenham melhorado, elas se limitaram a um número pequeno de fundos. Segundo ele, o noticiário na imprensa estrangeira sobre o presidente Jair Bolsonaro não ajuda a diminuir o ceticismo com o País.
Para o economista-chefe do BNP Paribas, José Carlos Faria, há porém sinais claros do apetite pelo Brasil. Em fevereiro, o Investimento Direto Estrangeiro somou US$ 8,4 bilhões, segundo o Banco Central, número superior aos US$ 7 bilhões esperados pelos economistas ouvidos pelo Broadcast Projeções.
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Empresários veem ruptura de antigas práticas
31/03/2019
Enquanto parte dos empresários diz que o governo precisa melhorar a interlocução com o Congresso e se abrir ao diálogo para aprovar a reforma da Previdência, alguns líderes de grandes empresas acreditam que ao menos parte dos “ruídos” na discussão da proposta está na difícil tarefa de derrubar antigas práticas na relação entre o Executivo e o Legislativo.
Nesse grupo está Rubens Menin, presidente do conselho da construtora MRV. “O governo de Jair Bolsonaro representa uma ruptura com o passado. Já tinha expectativa que não seria muito fácil (aprovar a reforma). Estamos exatamente neste ponto (de inflexão).” Outro nome da construção, Meyer Joseph Nigri, fundador da Tecnisa, minimiza a turbulência da semana passada como “espuminha” e frisa que Bolsonaro “quer paz”. “Em toda mudança de governo, há ajustes a serem feitos.”
O discurso de Menin e Nigri encontra coro em Alexandre Grendene, cofundador da fabricante de calçados Grendene. “O problema é que faz 20 anos que os governos vêm aumentando privilégios, principalmente de uma minoria. Mudar tudo isso é difícil porque ninguém quer perder privilégios. Precisamos ter um pouco de paciência para começar a ver os resultados deste novo governo.”
Fiador do movimento liberal no País, Winston Ling, que tem negócios petroquímicos no Brasil e é dono de fintechs nos EUA, espera que Congresso e governo se acertem. “Aparentemente os dois lados são a favor da reforma. O ideal é que o governo aproveite seu capital político para aprovar as mudanças. Há uma discussão ainda do que é velha e nova política.”
Ling diz acreditar que o governo tem potencial para aprovar o projeto. O empresário segue à risca a cartilha do economista Paulo Guedes – ele ajudou a aproximar o ministro da Economia do presidente.
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Governo estudo imposto menor para empresas
31/03/2019
O Ministério da Economia estuda reduzir impostos de empresas a fim de impulsionar a economia brasileira, nos moldes dos Estados Unidos, informou ontem, pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro. O objetivo, segundo ele, é gerar competitividade interna, empregos, barateamento do produto e competitividade também no exterior, “a exemplo de @realDonaldTrump, nos EUA”.
Bolsonaro explicou, em posts sequenciais, que a ideia é trocar a cobrança de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) por tributação sobre dividendos. De acordo com o presidente, desde 1995, o País não cobra IR sobre a parcela do lucro distribuída aos acionistas de uma companhia, na contramão da prática internacional.
“Atualmente, as empresas do Brasil que lucram mais de R$ 20 mil por mês pagam 25% de IRPJ e 9% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), totalizando 34%”, escreveu.
Em janeiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia dito, em Davos, que o governo pretendia reduzir o imposto para empresas de 34% para 15%. Para compensar perda de arrecadação, ele disse, à época, que os dividendos seriam tributados em 20%. Segundo Guedes, a motivação é atrair investidores estrangeiros.