O globo, n. 31344, 01/06/2019. País, p. 8

 

Proposta de redução de deputados tem reação

Amanda Almeida

01/06/2019

 

 

Após Bolsonaro defender em entrevista diminuição do número de parlamentares para 400, líderes da Câmara afirmam que Planalto deveria propor mudanças no sistemo político e submetê-las à votação no Congresso

Reformulação. Na Câmara, líderes afirmam que uma proposta de reforma política deve partir do presidente, após Bolsonaro sugerir mudanças no Congresso
Deputados reagiram à declarção do presidente Jair Bolsonaro que admitiu desistir de disputar a reeleição, caso o Congresso aprove uma reforma política, com mudanças como a diminuição do número de parlamentares. Em entrevista à revista “Veja” divulgada ontem, Bolsonaro afirmou que “se a gente fizer uma boa reforma política, eu topo ir para o sacrifício e não disputar a reeleição”.

— Com uma boa reforma política, que diminuiria o número de parlamentares de 500 para 400, entre outras coisas mais, eu toparia entrar nesse bolo aí de não disputar a eleição. —declarou o presidente à revista. ParalíderesdaCasa,seopresidente defende uma reforma política, ele mesmo deveria apresentá-laaoCongresso,onde várias propostas sobre o tema tramitam há anos:

— É muito difícil que um parlamentar vote contra um sistema que ele está acostumado. Há quatro ou cinco propostas diferentes de reforma política no Brasil e cada um defende a sua. Se o presidente tiver a ideia dele, deveria propor. Quem sabe assim não se vota algo — diz

o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Essa não é a primeira vez que Bolsonaro fala da redução das cadeiras na Câmara e no Senado. Durante a campanha, o então candidato do PSL já havia declarado que abriria mão da reeleição e prometia discutir com o Congresso uma reforma política. Cortar o número de senadores e deputados era uma promessa de Bolsonaro. Em outubro do ano passado, ele chegou a dizer que essa redução poderia ser de 15% a 20%.

O líder do Podemos, José Nelto (GO), diz que até concorda com a redução de parlamentares, mas fala em aumento do período dos mandatos:

— É a frase mais prudente que ele falou desde que ele está à frente da Presidência da Republica. Meu partido apoia totalmente, também nas assembleias e câmaras. Queremos fazer uma reforma geral, acabando com a reeleição e passando o mandato para cinco anos. Se ele fizer uma proposta dessa, o Congresso vai ficar do povo ou contra o povo?

À Veja, Bolsonaro falou ainda sobre as discussões de implantação do parlamentarismo no país, defendida por parte dos deputados e senadores:

— O parlamentarismo foi tentado duas vezes, se não me engano. É preciso realizar um plebiscito. O povo, no meu entender, não seria favorável. O líder do Podemos no Senado, Eduardo Girão (CE), também defendeu o fim da reeleição e lembrou que ele mesmo assinou proposta de emenda constitucional para reduzir o número de senadores. A PEC endossada pelo senador Girão apresentada este ano reduz de três para dois o número de senadores por unidade da federação. — O sentimento é esse, de diminuir a máquina do estado, otimizar as engrenagens. É um número muito grandes de parlamentares. Na Câmara Federal, por exemplo, há mais deputados que cadeiras no plenário. —disse o senador.

Proposta tramitam

Tramita no Congresso outra proposta de emenda constitucional que prevê a redução da representação de deputados. Pela proposta, o número total de deputados que hoje é de 513 passaria a 405, uma redução de 20% no tamanho do Câmara. Sugestões para reduzir o número de representantes nas duas Casas sempre tiveram pouca receptividade e há resistência em boa parte dos partidos.

O líder do Solidariedade na Câmara, Augusto Coutinho (PE), por exemplo, considera a ideia de redução do número de parlamentares polêmica e faz a comparação com outros países: — Tem Parlamento de país mais desenvolvido que o nosso cujo o número de parlamentares, na relação por habitantes, é maior que o do Brasil. Então, há várias teorias divergentes sobre o ideal.

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Bolsonaro afirma que sofre ‘sabotagens’ no governo

01/06/2019

 

 

Para presidente, há aparelhamento em ministérios e falta ‘patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil’

Na entrevista para “Veja”, o presidente Jair Bolsonaro denunciou que sofre “sabotagens” no governo, com ministérios aparelhados e políticos inexperientes que esperavam dele resolver problemas “no peito e na raça”. “Há sabotagens às vezes de onde você nem imagina. No Ministério da Defesa, por exemplo, colocamos militares nos postos de comando. Antes, o ministério estava aparelhado

por civis. Havia lá uma mulher em cargo de comando que era esposa do 02 do MST. Tinha ex-deputada do PT, gente de esquerda... Pode isso? Na visão do presidente, falta “patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil”. Bolsonaro, no entanto, não citou quem eram os alvos de sua crítica. O presidente contou que sente uma pressão “muito grande” no cargo, sob as acusações de não ter governabilidade. Essa semana, depois de muito esforço, o governo conseguiu aprovar a Medida Provisória que trata da reforma administrativa. Dias antes, sob o risco de derrota no Congresso, Bolsonaro havia divulgado um texto via Whatsapp dizendo que o país era “ingovernável”. “Mas o que é governabilidade?”, questionou para a revista. Na entrevista, Bolsonaro considerou já ter concluído as promessas de campanha de indicar “um gabinete técnico, respeitar o Parlamento e cumprir o dispositivo constitucional de independência dos Poderes”.

O presidente ressaltou o alcance da publicação dos atos de governo nas redes sociais e atribuiu o “sucesso” de engajamento ao filho Carlos Bolsonaro, mas reconheceu a “impetuosidade” do vereador do Rio, responsável por abrir discussões públicas até com aliados do pai, como o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz e o vice-presidente Hamilton Mourão.

Noites sem dormir

Bolsonaro também admitiu sofrimento nos primeiros cinco meses de governo: “Já passei noites sem dormir, já chorei pra caramba também. Angústia, né? Imaginava que ia ser difícil, mas não tão difícil assim. Essa cadeira aqui é como se fosse criptonita para o Super-Homem. Mas é uma missão”, declarou. O presidente disse se preocupar com a quebra de sigilo do filho, o senador Flávio Bolsonaro. No início do mês, a Justiça do Rio autorizou a medida em investigação sobre a atuação de Flávio enquanto deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio. “Se alguém mexe com um filho seu, não interessa se ele está certo ou errado, você se preocupa”, disse. Bolsonaro negou ainda que Olavo de Carvalho tenha influência no governo, embora tenha sido “pessoa importante” durante a campanha: “O Olavo não faz por maldade. Ele, pela idade talvez, quer as coisas resolvidas mais rápido”.