O globo, n. 31345, 02/06/2019. País, p. 5

 

Flávio diz que funcionários do gabinete eram ‘qualificados’

Juliana Dal Piva

02/06/2019

 

 

Senador não respondeu quais serviços os parentes de Ana Cristina Valle prestavam ao seu gabinete na Alerj

O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) disse que os parentes da ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro foram nomeados em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) porque eram “qualificados para as funções que exerciam”. Por meio de nota, Flávio disse que eles “trabalharam em diferentes áreas, mas sempre em prol do mandato, tanto que as votações enquanto deputado estadual foram crescentes”. Segundo o senador, as contratações dessas pessoas ocorreram “de forma transparente e de acordo com as regras da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)”. A execução do trabalho, diz o senador, também “ocorreu de acordo com as normas ”.

Ele disse ainda que os cargos comissionados da Alerj são de duas naturezas: “técnica (com o profissional no gabinete) e de natureza política (com o profissional na base eleitoral)”. O senador, porém, não respondeu as perguntas formuladas pelo GLOBO. A reportagem informou sobre a falta de crachás para seus assessores e questionou como Francisco Diniz trabalhava para ele quando estava cursando faculdade integral de Veterinária em Barra Mansa.

Além disso, a reportagem questionou que serviços Andrea Siqueira Valle, Maria José de Siqueira e Silva e José Procópio Valle prestavam a ele quando era deputado. Ana Cristina Valle também foi procurada e não retornou. A Alerj informou que os funcionários da Casa sempre foram orientados a emitir crachá funcional, mas o rigor sobre a identificação aumentou em fevereiro deste ano. Agora, até para entrar no prédio, o item é exigido.

A ex-mulher

Advogada, Ana Cristina Valle também foi assessora-chefe do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio. Durante a campanha eleitoral de 2018, veio a público o processo litigioso de sua separação de Jair Bolsonaro em reportagem da revista “Veja”. Em viagem à Noruega, onde viveu por cinco anos, a advogada acusou Bolsonaro de ameaçá-la durante a disputa pela guarda do filho do casal. Passados dez anos do episódio, e apoiadora da campanha do então candidato do PSL, Ana Cristina negou as acusações que havia feito anteriormente.

Hoje, ela trabalha como assessora do vereador Renan Marassi (PPS-RJ) na Câmara de Vereadores de Resende. Foi ela a ponte para que a família Siqueira Valle começasse a integrar a extensa lista de funcionários do clã Bolsonaro, há cerca de 20 anos. Jair Bolsonaro nomeou cinco integrantes da família Siqueira Valle. Três deles acabaram transferidos para o gabinete de Flávio, que chegou a ter nove parentes de Ana Cristina.

Ao todo, pelo menos 12 familiares dela estiveram nos gabinetes desde 1998, quando Jair Bolsonaro e Ana Cristina passaram a viver juntos. Oca salse separou em 2008. Procurado sobre o assunto, o Palácio do Planalto não retornou. Duas pessoas próximas contaram que os parentes nomeados nunca fizeram assessoria parlamentar. Alguns deles apenas distribuíam santinhos no período de campanha pela reeleição. Os funcionários podem trabalhar tanto na Alerj, na capital, quanto nas bases eleitorais. O controle é de responsabilidade de cada deputado. Apesar de ter assessores que viviam em Resende, em 2014, última vez que concorreu para deputado estadual, Flávio teve 1.763 votos na cidade. Foi sua 9ª maior votação no estado.

O local em que ele foi mais votado foi na capital, com 100.453 votos de um total de 160.359. A investigação sobre a prática ilegal de “rachadinha” — devolução de parte do salário dos funcionários — em gabinetes da Alerj segue em sigilo no Ministério Público do Rio. O Tribunal de Justiça (TJ) negou o pedido de liminar da defesa de Fabrício Queiroz, pivô da investigação no gabinete de Flávio, que tentou anular as quebras de sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas e empresas. O senador também já teve pedidos para paralisar a investigação negados.