Título: França e Alemanha prometem agir
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Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2012, Economia, p. 18
Ludwigsburg, Alemanha — França e Alemanha têm responsabilidade e estão comprometidos a trabalhar juntos na luta contra a crise da dívida na Zona do Euro. Essa foi a garantia dada ontem pelo presidente francês, François Hollande, e pela chanceler alemã, Angela Merkel, durante a comemoração das relações entre os dois países.
Falando em frente ao palácio barroco onde, há 50 anos, o então presidente francês Charles de Gaulle fez um discurso prometendo amizade e reconciliação histórica entre os dois países, Merkel e Hollande ressaltaram os desafios que a Europa enfrenta hoje. "Não temos escolha a não ser seguir em frente. Alemanha e França têm uma responsabilidade especial. Somos o coração da Europa", disse o francês. "Embora a França e a Alemanha não possam decidir por outros países, devem compartilhar seu ponto de vista", acrescentou.
Hollande assinalou a necessidade urgente de que sejam criadas as condições para o crescimento econômico, o combate ao desemprego juvenil e o melhor controle do setor financeiro, hoje epicentro da crise europeia. "O enquadramento dos bancos é necessário, bem como a união social", disse. Ele sugeriu ainda que a supervisão bancária na União Europeia seja colocada em prática "o quanto antes".
Merkel destacou, porém, que o controle do sistema financeiro deve ser feito com qualidade. "Para mim, o importante é a qualidade. Não serve de nada fazer algo muito rapidamente e que não funcione", disse. "É necessário que sejamos sérios, é necessário que haja qualidade e, depois, veremos o tempo que isso leva. Devemos também pedir que nossos ministros das Finanças trabalhem rapidamente", acrescentou.
A líder alemã destacou que não há mais espaço para promessas no sentido de tirar a Zona do Euro do atoleiro em que se encontra. "Estamos trabalhando para uma recuperação duradoura na Europa. E Alemanha e França têm responsabilidade especial nisso", afirmou. Para reforçar que as relações entre os dois países são para valer, não apenas um jogo de cena, a chanceler disse que o que os une é a "confiança", apesar dos apelos de Hollande por medidas que resultem em um crescimento econômico mais rápido, mesmo que isso fira os princípios de austeridade fiscal da conservadora Merkel.
Megafusão Além da crise europeia, Merkel e Hollande conversaram sobre os planos de fusão entre a controladora da Airbus, a EADS, e a britânica BAE Systems, processo que resultará num novo gigante aeroespacial e de defesa. Eles não anunciaram, porém, nenhuma decisão sobre o projeto de US$ 45 bilhões. As vendas anuais das duas empresas somam US$ 93 bilhões. A operação, pela qual a EADS passaria a deter 60% da BAE, envolve preocupações relativas à economia e à segurança nacional.
"Não chegamos a nenhuma decisão e não era esperado que chegássemos. Mas a Alemanha e a França manterão contato próximo a respeito dessa questão", disse Merkel. "Concordamos em investigar as questões envolvendo a fusão de maneira intensa, com o cuidado necessário e de acordo com as companhias envolvidas", emendou. As duas empresas têm até o dia 10 de outubro, segundo as regras do Reino Unido, para detalhar os planos da fusão.
» 60 bi de euros para espanhóis
O ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos, informou ontem que os bancos de seu país podem necessitar de um aporte de 60 bilhões de euros para superar a grave crise na qual se meteram desde o estouro da bolha imobiliária em 2008. O cálculo foi feito pela consultoria Oliver Wyman. A cifra está longe dos 100 bilhões de euros oferecidos pela União Europeia. É a primeira vez que o governo espanhol quantifica resultados de um teste de estresse em 14 principais bancos do país, que será anunciado na sexta-feira. De Guindos disse que os recursos serão de uso estritamente do sistema financeiro e não haverá excedentes. Quanto a um possível pedido de resgate pela Espanha a seus parceiros da região, o ministro insistiu que o governo vai agir "sem pressa".