O Estado de São Paulo, n. 45830, 10/04/2019. Política, p. A6

 

Chanceler demite 2º presidente da Apex em 3 meses

Lorenna Rodrigues

10/04/2019

 

 

Mário Vilalva deixa a agência de fomento a exportações após entrar em conflito com ministro Ernesto Araújo; substituto não foi definido

Agência. O chanceler Ernesto Araújo demitiu Vilalva; Apex é subordinada ao Itamaraty

O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Mário Vilalva, foi demitido ontem, depois de uma queda de braço com dois diretores ligados ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e com o próprio chanceler. A saída de Vilalva foi interpretada como uma vitória de Araújo na disputa de poder travada com militares na agência.

A demissão foi anunciada pelo Itamaraty em nota. Anteontem, em entrevista ao Estadão/Broadcast, Vilalva acusou Araújo de ter dado um “golpe”, ao mudar o estatuto da Apex sem consultá-lo. O novo texto do estatuto retira poderes do presidente da agência e amplia a força de seus diretores.

Na nota, o próprio Araújo anuncia a exoneração de Vilalva, que também é diplomata de carreira e foi embaixador do Brasil na Alemanha e no Chile. Ele não informa quem será o próximo presidente. Segundo o Estadão/Broadcast apurou, o chanceler defendia colocar o atual diretor de Gestão da agência, Márcio Coimbra, no cargo, mas Bolsonaro prefere um diplomata, o que deve prevalecer.

Antecessor. Exonerado um dia depois da troca de comando no Ministério da Educação, Vilalva foi o segundo presidente da Apex a ser demitido no governo Bolsonaro. Ainda em janeiro, o primeiro escolhido do presidente para o cargo, Alex Carreiro, foi dispensado depois de apenas uma semana no cargo.

Nos dois casos, a disputa foi a mesma. Tanto Carreiro quanto Vilalva bateram de frente com a diretora de Negócios da Apex, Letícia Catelani. Carreiro se opunha a demissões defendidas por Letícia.

Com Vilalva, a briga atingiu a renovação de contratos e nomeação de pessoal. A disputa começou após Letícia e Coimbra se recusarem a assinar a renovação de contrato com uma empresa para a participação da Apex em feiras, como uma de design em Milão, na Itália.

Vilalva defendia a renovação, mas os diretores se negaram, sob o argumento de que a empresa havia sido citada na Operação Lava Jato. Eles também não assinavam a contratação de pessoas indicadas pelo presidente, e vice-versa, o que levou várias pessoas a trabalharem na agência temporariamente, sem serem nomeadas.

Coimbra e Letícia são da “cota” de Ernesto Araújo – a Apex é subordinada ao Itamaraty – e têm o apoio do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Segundo interlocutores, Araújo pediu a Bolsonaro que Vilalva fosse retirado do cargo antes de viajarem a Israel e, para isso, ofereceu postos em embaixadas, para não parecer que o embaixador foi demitido.

Vilalva não aceitou. “Eu não estou à venda, não estou aqui para amanhã ser comprado”, afirmou, na entrevista ao Estadão/Broadcast. Procurados ontem, Vilalva, Letícia e Coimbra não se pronunciaram.

‘Interventor’. Em outro episódio, Letícia decidiu não renovar um contrato, o que deixou de fora ações da Apex no Festival de Cannes, em maio. A participação brasileira era parte de um convênio firmado entre a ApexBrasil e o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp).

Vilalva, então, baixou uma portaria que retirou poder dos outros diretores e levou reclamações até o ministro da Secretaria-Geral do Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Na sequência, Santos Cruz decidiu colocar na agência o general Roberto Escoto como uma espécie de “interventor”.

A nomeação do general agravou ainda mais a crise na agência. A Santos Cruz e a Bolsonaro ele pediu que Coimbra e Letícia fossem demitidos.