Correio braziliense, n. 20452, 20/05/2019. Política, p. 3

 

Críticas aos protestos de domingo que vem

Rodolfo Costa

20/05/2019

 

 

O apoio ao presidente Jair Bolsonaro está dividido. Nas redes sociais e entre parlamentares influentes do PSL, a cisão é cristalina. Apoiadores do chefe do Executivo federal convocaram há dois meses um dia de manifestações em todo o país para o domingo que vem. Os protestos têm como pauta defender as reformas e medidas do governo e pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF), acusado por movimentos de ruas de legislar pautas como a criminalização da homofobia. O problema é que a postura de confronto de Bolsonaro contra o Centrão — uma resposta às modificações capitaneadas pelo bloco político sobre a Medida Provisória (MP) 870 — assustaram lideranças do PSL e grupos de apoio.

Conhecida por ter sido uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) criticou ontem a data marcada para as manifestações a favor do governo. “Pelo amor de Deus. Parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações! Raciocinem! Eu só peço o básico! Reflitam!”, publicou.

A parlamentar foi a mais votada para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e candidata à presidência do Legislativo estadual. Informou que tem recebido muitos pedidos para gravar vídeos e áudios colaborando com as convocações. Mas se nega a defender Bolsonaro. “O presidente foi eleito para governar nas regras democráticas, nos termos da Constituição Federal. Propositalmente, ele está confundindo discussões democráticas com toma lá dá cá”, criticou, fazendo referência às últimas publicações em tom de confronto do capitão reformado.

Defesa

Nas redes sociais, o Movimento Brasil Livre (MBL) — um dos principais a mobilizar protestos contra Dilma — também se recusou a apoiar os protestos para o dia 26, alegando, em nota, que há um “setor em especial, mais radical” que está convocando uma “estranha manifestação” suspeita de propor pautas como fechamento do STF e invasão ao Congresso. “Obviamente, tais pautas antirrepublicanas não são compartilhadas pelo MBL. Pelo bem das reformas e do país, ficaremos de fora deste ato”, informou. O Vem Para a Rua foi outro movimento a não aderir, por interpretar ser uma pauta de apoio ao governo, e não suprapartidária.

Antes da divulgação da nota, na sexta-feira, o MBL contava com 1,57 milhão de inscritos no YouTube. Ontem, eram cerca de 1,46 milhão. Lideranças que apoiam o dia de protestos apontam que essa redução de mais de 100 mil seguidores está associada a um entendimento contrário de boa parte dos apoiadores de Bolsonaro, como exemplifica a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), fundadora do movimento Nas Ruas.

“Discordo com o maior respeito da Janaína e não acho ser estranho ou irracional. Chegou um novo momento que as pessoas estão percebendo que o presidente não vai ter força suficiente para, sozinho, aprovar o que tem que ser aprovado”, justificou. A parlamentar garante que o Nas Ruas participará dos atos com apoio de outros movimentos e nega intenções antirrepublicanas por parte dos grupos de apoio. “Foram mal-interpretados. As lideranças não vão estimular movimentos agressivos. A intenção não é essa e nunca foi”, acrescentou.

Frase

“Chegou um novo momento que as pessoas estão percebendo que o presidente não vai ter força suficiente para, sozinho, aprovar o que tem que ser aprovado”

Carla Zambelli (PSL-SP), deputada federal