O Estado de São Paulo, n.45818, 29/03/2019. Metrópole, p. A19

 

Confusão no MEC pode causar atrasos no Enem 

Renata Cafardo 

29/03/2019

 

 

A comissão criada para analisar as questões deve terminar o trabalho até segunda; mas o cargo de quem dará a resposta final está vago

A confusão no Ministério da Educação (MEC) está inviabilizando até a polêmica comissão criada para analisar as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que pode atrasar todo o cronograma do maior vestibular do País. O grupo começou a trabalhar no dia 20 e deve terminar hoje ou, no máximo, segunda-feira (a regra previa que a análise duraria dez dias).

O problema é que as perguntas consideradas inadequadas pela comissão devem obrigatoriamente ter um parecer pelo responsável pela Diretoria de Avaliação de Educação Básica (Daeb), do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep). O diretor Paulo Roberto Cesar Teixeira pediu demissão ontem e ninguém foi nomeado para substituí-lo. Também seria do presidente do Inep a função de dar o parecer final para saber se as questões ficam ou não na prova.

Marcus Vinicius Rodrigues, que ocupava o cargo, foi exonerado terça-feira, depois de desentendimentos com o ministro Ricardo Vélez Rodríguez. O chefe da pasta disse que Rodrigues aprovou mudanças na avaliação para alfabetização sem o consentimento dele – “puxou o tapete”, conforme afirmou anteontem em audiência na Câmara dos Deputados.

Só depois de a comissão finalizar seus trabalhos é que serão escolhidas as 180 questões da prova deste ano, em um trabalho demorado porque envolve análises pedagógicas e técnicas, uma vez que o Enem mantém um rigoroso método estatístico. O exame será em novembro.

Conforme noticiou o Estado com exclusividade no dia 20 deste mês, a função da comissão com três membros era a de fazer uma análise transversal dos chamados itens – as questões. O objetivo era o de “identificar abordagens controversas com teor ofensivo a segmentos e grupos sociais, símbolos, tradições e costumes nacionais”.

Os integrantes desse comitê são Marco Antônio Barroso Faria, ex-aluno de Vélez, que é assessor no MEC, Antônio Maurício Castanheira das Neves, diretor no Inep, e Gilberto Callado de Oliveira, procurador de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, ligado a Eduardo Bolsonaro.

General. Quem está assumindo as funções de presidente de Inep, embora não nomeado ainda, é o general Francisco Mamede de Brito Filho. Ele não tem experiência específica na área da educação nem em avaliações. O militar serviu no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e comandou o Batalhão Brasileiro no Haiti. Até a demissão de Rodrigues ele era o chefe de gabinete no Inep e tinha apenas funções burocráticas.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Bolsonaro admite que área 'tem problemas'

Julia Lindner 

29/03/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro admitiu que o Ministério da Educação tem “problemas”, mas que vai conversar com o ministro Ricardo Vélez Rodríguez sobre o assunto e “tomar as decisões que tem de tomar”. Ele não deixou claro quando vai se reunir com o ministro.

“Tem problemas (o MEC ), tem. Ele (Vélez) é novo no assunto, não tem tato político”, declarou Bolsonaro na cerimônia de aniversário da Justiça Militar, na qual foi condecorado. Questionado se Vélez estaria “na berlinda”, Bolsonaro respondeu que “não vai ameaçar nenhum ministro publicamente”. “Se tiver alguma coisa fora da normalidade a gente acerta”, completou.

Bolsonaro negou que já tenha decidido demitir Vélez. “Eu estava em São Paulo ontem, estou tomando pé da situação, não procede que (Vélez) foi exonerado, jamais exoneraria alguém por telefone”, disse, ao ser questionado sobre as críticas à participação do ministro em uma comissão da Câmara anteontem.

O presidente destacou ainda a importância da pasta e disse que “a educação tem de dar certo”. “É um dos ministérios mais importantes”, declarou.

No governo Bolsonaro o MEC é um campo de batalha entre três grupos, que disputam poder. Militares, que estavam à frente de postos-chave (mas agora estão sem o Inep, considerado um trunfo), o grupo de discípulos de Olavo de Carvalho e os chamados “técnicos”. Ao longo de dois meses, havia um certo equilíbrio entre as três alas. Com o episódio da carta enviada pelo ministro para sugerir a gravação do Hino Nacional em colégios, “técnicos” procuraram retirar integrantes dos “olavistas”. Houve o contra-ataque, que resultou até agora em pelo menos 16 demissões.