O globo, n. 31352, 09/06/2019. País, p. 7

 

Em busca de adrenalina, Bolsonaro quer voltar a pular de paraquedas

Jussara Soares

Gustavo Maia

09/06/2019

 

 

De almoço na estrada com caminhoneiros a passeio de jet ski, desejo de aventura do presidente dá trabalho a seguranças

O ímpeto aventureiro do presidente Jair Bolsonaro tem exigido da equipe responsável por sua segurança uma capacidade extra de lidar com imprevistos. Além da rotina de avaliar riscos externos e tomar medidas de proteção à vida do chefe do Executivo, o grupo tem se preparado para mudar os planos na velocidade das venetas do presidente. Nas últimas semanas, decidiu ir a pé à Câmara de Deputados, dar uma voltinha de moto, parar na beira da estrada para almoçar com caminhoneiros e pilotar um jet ski. Nos corredores do Palácio do Planalto, Bolsonaro, para a angústia da segurança, tem confessado outra vontade: saltar de paraquedas, como nos seus tempos de Exército —ele integrou a brigada paraquedista. Assessores tentam demovê-lo da ideia, mas se preparam para que, mais cedo ou mais tarde, isso possa acontecer. Reservadamente, até os mais discretos admitem: a impulsividade de Bolsonaro dá trabalho.

Em viagem a Aragarças (GO), na última quarta feira, sem combinar previamente com a sua segurança, Bolsonaro determinou que o carro desse uma parada para que ele pudesse repetir uma cena vista diversas vezes durante a campanha eleitoral, antes de ele levar uma facada em Juiz de Fora (MG), em setembro: saiu do veículo e se apoiou no capô para acenar aos moradores. Mais tarde, na mesma viagem, pilotou um jet ski no Rio Araguaia. Sem trajes adequados, ministros e seguranças se viram compelidos a entrar na água vestidos. Fontes do Palácio garantem que nada disso estava no script. A viagem à região do Araguaia, na divisa entre os estados de Goiás e Mato Grosso, esteve prestes a ser cancelada. A equipe de segurança, que vai antes ao local para fazer vistoria, avaliara que não havia condições adequadas para a visita do presidente. Informado do relato, Bolsonaro teria assumido o risco e determinado que a agenda fosse mantida.

"Sair para um lanche"

Oficialmente, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, minimiza o episódio e diz que o único risco apontado era a falta de estrutura para o evento no Dia Mundial do Meio Ambiente. Diante dos impulsos do chefe, ele prefere se resignar: —Sempre dá mais trabalho, mas a gente é pago para isso —comentou o ministro, durante o amistoso entre Brasil e Qatar, na última quarta. Naquela noite, haveria uma outra surpresa: o presidente decidiu ir a um hospital em Brasília encontrar o jogador Neymar, que havia se lesionado na partida. Em abril, o presidente já havia feito outra estripulia. Hospedado no Hotel de Trânsito do Forte dos Andradas, no Guarujá, litoral de São Paulo, saiu de motocicleta. Um auxiliar do presidente conta que ele avisou à segurança na hora que “ia sair para comprar um lanche.” Na volta, com o capacete levantado e apoiado na testa, parou para falar com jornalistas e populares. Nada também estava previsto.

Há dez dias, outro rompante: decidiu ir à Câmara a pé participar da homenagem ao humorista Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador da “Praça É Nossa”. Dessa vez, além da segurança e assessores, pegou de surpresa o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que chegou à Casa quando Bolsonaro já estava quase de saída. O parlamentar admitiu ter tido que “vestir o terno correndo.”

Em outro episódio, na volta de uma viagem a Goiânia, decidiu parar numa churrascaria na beira da estrada, em Anápolis, para almoçar com caminhoneiros.

—Nós temos consciência de que sempre existirá essa questão: a segurança vai querer a máxima restrição possível, enquanto a autoridade deseja mais liberdade de ação. Cabe a nós nos prepararmos para oferecer uma segurança eficiente mesmo nessas condições, que não seriam as ideais — justificou um integrante da Segurança Institucional.

A secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial é chefiada pelo general de brigada Luiz Fernando Estorilho Baganha. A equipe é formada por oficiais das Forças Armadas, policiais federais, policias militares e bombeiros do DF. A cada viagem, o grupo ganha reforço das forças de segurança nos estados. O número de agentes não é divulgado a cada agenda externa, mas há policiais à paisana e localizados em pontos estratégicos.

Muitas outras emoções

> Mesmo antes de levar uma facada em Juiz de Fora (MG), Jair Bolsonaro, então candidato, já dava trabalho à equipe de segurança. Ele era imprevisível e se jogava no meio da multidão, muitas vezes sem colete à prova de balas.

> Na campanha, em um giro pelo interior de São Paulo, acompanhado pelo GLOBO, um dos seguranças alertou para que o candidato fosse impedido de pular sobre a multidão, na cidade de Araçatuba. Já em São José do Rio Preto, ele pulou sozinho do trio elétrico entre o público para conseguir chegar a um carro.

> No dia da votação do segundo turno, ao chegar em seu condomínio na Barra da Tijuca, no Rio, após votar, ele colocou parte do corpo para fora do carro da Polícia Federal para acenar para os eleitores. O delegado da PF Antonio Marcos Teixeira repreendeu os agentes que permitiram que ele fizesse a saudação. Bolsonaro ficou contrariado e, na hora, dispensou os serviços de Teixeira.