O globo, n. 31351, 08/06/2019. País, p. 6

 

Correndo por fora

Jailton de Carvalho

Vinicius Sassine

Jussara Soares

Gustavo Maia

08/06/2019

 

 

Dodge se põe à disposição de Bolsonaro e é alvo de críticas Candidatos discordam da decisão dela de correr por fora da disputa pela lista tríplice

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, colocou-se “à disposição da instituição e do país” para ser reconduzida ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro. Escolhida em 2017 como a segunda mais votada da lista tríplice, Dodge agora declinou de participar do processo eleitoral da categoria. Ela recebeu críticas de alguns dos candidatos inscritos. “É triste que ela vire as costas para a carreira e seus processos democráticos’’, disse o procurador regional Vladimir Aras. Dodge tem se aproximado de políticos, e sua recondução é uma possibilidade. O apoio a ela, no entanto, é maior no Congresso que no Planalto.

Após meses de silêncio e muita movimentação de bastidores, a procuradorageral da República, Raquel Dodge, entrou ontem abertamente na disputa pela chefia do Ministério Público Federal nos próximos dois anos. A corrida já envolvia formalmente dez procuradores que se candidataram à lista tríplice organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que será eleita no próximo dia 18. Ao contrário do que fez há dois anos, desta vez Dodge optou por não se candidatar à lista. Ainda assim, ela pode ser reconduzida pelo presidente Jair Bolsonaro, já que o respeito à votação da categoria é apenas uma tradição iniciada no governo Lula.

Dodge foi nomeada para o cargo em 2017 pelo então presidente Michel Temer. Ela foi a segunda mais votada da lista tríplice. Em Brasília, há um movimento dos meios políticos para convencer Bolsonaro decidir pela recondução de Dodge .

— Eu estou à disposição, tanto da minha instituição quanto do país, para uma eventual recondução. Eu não sei se isso vai acontecer — disse Dodge ao G1, antes de participar de encontro regional de promotoras e procuradoras sobre questões de gênero, em São Paulo. A procuradora-geral, cujo mandato atual termina em setembro, disse que que não conversou com Bolsonaro sobre o assunto e negou articular sua recondução:

— Eu tenho me mantido sem fazer nenhuma manifestação neste sentido. A recondução de Dodge é defendida pelos presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e por um expressivo número de parlamentares do centrão. Ela também conta com o apoio do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e de outros ministros, entre eles Gilmar Mendes. Toffoli chegou até a falar do assunto com Bolsonaro.

Um dos movimentos da procuradora-geral, que é goiana, é a aproximação com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que passou a ser um interl oc utorfre quente de Bolson aro. Além disso, e lajá participou de um jantar, fora de sua agenda oficial, com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também interlocutor do presidente.odge conta ainda coma ajuda principalmente de seu secretário-geral na PGR. O procurador regional Alexandre Camanho tem perfil político e entrada em gabinetes de Brasília. Camanho tem buscado apoios no Senado, onde o indicado pelo presidente precisa ser sabatinado e aprovado.

Reação imediata

A declaração de Dodge causou reação imediata dos que disputam a eleição interna do Ministério Público Federal. — É triste que uma colega que chegou ao cargo pela lista eque co melas e compromete upo rescrito agora vi reas costas para a carreira e seus processos democráticos internos —afirmou Vladimir Aras, um dos favoritos na disputa. O procurador-regional Blal Dalloul classificou de“deplorável” a declaração da procuradora-geral. Para ele, alista trípliceéo quedá legitimidade a oche fedo Ministério Púb li co.Blalt ambé mé tido como um forte candidato.

— A declaração não contribui para a consolidação de um modelo democrático essencial para o Ministério Público, praticado nos últimos 16 anos. Acho profundamente deplorável o caminho adotado —afirmou. A subprocuradora Luiza Frischeisen também reagiu: — Se ela pretende um segundo mandato, deveria concorreràl ista como fizeram os demais procuradores gera isque ficaram quatro anos: Antônio Fernando, Gurgel e Rodrigo Janot. No momento, a orientação de interlocutores aopre si denteéparaque não se posicione e deixe o “problema” para o segundo semestre. Dois auxiliares de Bolsonaro dizem que Dodge é, sim, cogitada. O apoio a ela, porém, seria maior no Congresso do que no Planalto. Junto aos Bolsonaro, pesam contra a procuradorageral as denúncias que ela fez contra Jair e um de seus filhos, o deputado Eduardo (PSLSP), em abril do ano ano passado. Na época, o presidente foi denunciado por racismo, acusação arquivada pelo STF. O deputado federal, por ameaça a uma jornalista.“Eu estou à disposição, tanto da minha instituição quanto do país, para uma eventual recondução. Eu não sei se isso vai acontecer ”

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Procuradores da Lava-Jato apoiam Vladimir Aras

Thiago Herdy

08/06/2019

 

 

Membros das forças-tarefas de Curitiba, Rio e São Paulo dizem, reservadamente, optar pelo ex-secretário de Cooperação Jurídica

Procuradores das forçastarefas da Lava-Jato em Curitiba, Rio e São Paulo vem reafirmando, em conversas reservadas, apoio ao procurador regional Vladimir Aras ao cargo de Procurador-Geral da República. Ele se consolidou como o preferido dos procuradores diretamente envolvidos nas ações de combate à corrupção devido à sua atuação na área. Ex-secretário de Cooperação Jurídica Internacional da PGR nos anos mais agudos da LavaJato,

Aras é próximo do exprocurador-geral Rodrigo Janot. Nos últimos anos, atuou como membro de grupos de trabalho que discutiam estratégias de combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro. Ele é um dos dez candidatos que disputam a eleição promovida pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Como procurador, Aras atuou em Foz do Iguaçu e Curitiba, quando integrou a força-tarefa do caso Banestado, que investigou o envio de recursos ao exterior por meio de contas do antigo banco estatal do Paraná. O caso foi descoberto por alguns dos mesmos investigadores e colaboradores que hoje são personagens da Lava-Jato.

As três forças-tarefas reúnem apenas 38 dos 1150 integrantes do Ministério Público Federal (MPF) aptos a apresentar três nomes de preferência em votação digital, marcada para dia 18. Ontem, Aras disse que é preciso ampliar a campanha “a todos os membros do MPF”, e defendeu a união da instituição “em defesa de seus valiosos propósitos comuns”. Ele não quis comentar o apoio de colegas das forças-tarefa. Nos últimos dias, o candidato acenou ao ministro Sergio Moro (Justiça), defendendo o pacote anticrime apresentado pelo ex-juiz ao Congresso, incluindo a polêmica ampliação dos chamados “excludentes de ilicitude”, que isentam pena para quem comete homicídio em situações específicas. Moro deve ser um dos principais auxiliares a influírem na decisão do presidente Bolsonaro sobre o cargo de PGR. Em agosto do ano passado, Aras defendeu que a Justiça Eleitoral no Brasil cumprisse a decisão do Comitê de Direitos Humanos do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP), com sede em Genebra, favorável à participação do ex-presidente Lula na disputa pelo Palácio do Planalto, apesar de preso, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidissem de forma definitiva sobre o registro da candidatura. Segundo ele, era a única forma de evitar a inadimplência do Estado brasileiro em relação a obrigações que assumiu no pacto internacional. O TSE optou por entendimento diverso.

Em nota oficial divulgada na quarta, os procuradores das forças-tarefas defenderam o respeito à lista tríplice para escolha do PGR, sem citar publicamente os postulantes ao cargo.