O globo, n. 31351, 08/06/2019. Rio, p. 15

 

A história do Rio contada em 45 peças de museus

Johanns Eller

08/06/2019

 

 

Livro, editado pela Fundação Getúlio Vargas, reúne objetos históricos e crônicas que passeiam pelas memórias da cidade por meio de itens inusitados, como a forca de Tiradentes e fragmentos do Elevado da Perimetral

Movidos pela ideia de que a história do Rio de Janeiro está espalhada por toda parte, três historiadores selecionaram 45 peças de museus, distribuídas por 31 instituições, para revelar quatro séculos de memórias da cidade em um livro. “História do Rio em 45 objetos”, que será lançado no dia 24, foi beber na fonte de um projeto semelhante do British Museum, no Reino Unido, como antecipou o colunista Ancelmo Gois. Apesar da referência estrangeira —na concepção britânica, a história do mundo foi contada através de 100 objetos —, as páginas não poderiam ser mais cariocas. Traves da forca de Tiradentes, pedaços do Elevado da Perimetral e uma roleta do jogo do bicho são alguns dos itens selecionados para ilustrar o livro da editora FGV. Organizadores da obra, Paulo Knauss, Marize Malta e Isabel Lenzi cumpriram o desafio de passear pelas muitas nuances de uma cidade que, ao longo de seus 454 anos, foi a única capital europeia fora do continente, sediou o Brasil Imperial e, depois, a República até 1960. Os trabalhos começaram no fim de 2015 e foram concluídos este ano. Knauss, diretor do Museu Histórico

Nacional , estudou outras iniciativas e decidiu optar por outro formato na versão carioca, com crônicas sobre os itens que revelam a diversidade histórica da cidade. —O trabalho revela a riqueza dos acervos no Rio de Janeiro, como os aparelhos de eletrochoque do Museu Psiquiátrico Nise da Silveira e a saia do Museu Carmen Miranda —enumera Knauss. —A história da cidade está por toda parte. Basta que se pergunte por ela. Nossa ideia é chamar a atenção das pessoas de que a história está em todo lugar.

Outra peça retratada é um sino do Colégio Pedro II, instituição federal pública aberta há 181 anos, que era tocado durante as visitas do imperador Dom Pedro II à escola. Dois itens, no entanto, recebem destaque especial. É o caso de um esqueleto de baleia e de uma urna de cerâmica tupinambá, que estavam expostos no Museu Nacional, destruído por um incêndio no ano passado. Knauss conta que a foto da urna, que abriria o livro, agora fecha a edição, como símbolo da questão indígena numa leitura mais contemporânea:

—A urna desapareceu, mas os índios continuam. Temos quase 30 mil índios na Região Metropolitana. Segundo a coordenadora editorial do livro, Nubia Melhem, foi difícil ter acesso a todas as imagens. —Parece surpreendente, mas a burocracia dos museus é grande. Isso atrasou muito o cronograma. Tivemos, ainda, cortes no orçamento da Faperj, que nos financiava —diz, referindo-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio.