Título: Deputado não quer Ted indicado para menores
Autor: Lisbôa, Anna Beatriz ; Oliveira, Priscilla
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2012, Brasil, p. 9

Protógenes Queiroz disse que só levou o filho de 11 anos ao cinema porque material de divulgação não deixa claro conteúdo adulto da comédia. O ministro da Justiça explicou que a classificação indicativa pode ser alterada

Para Tiago Roberto, o longa-metragem não deveria ser recomendado para quem tem menos de 18 anos

O deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB–SP) protocolou ontem no Ministério da Justiça pedido para mudar a classificação indicativa do longa-metragem Ted, em cartaz nos cinemas. Ele quer que o filme seja recomendado apenas para maiores de 18 anos. O parlamentar expressou sua revolta com a comédia — não recomendada para menores de 16 anos — depois de assistir ao filme com o filho de 11 anos.

Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, qualquer pessoa que se sentir desconfortável com a classificação determinada para uma obra artística poderá apresentar à Secretaria Nacional de Justiça, ligada ao ministério, um requerimento pedindo a revisão da faixa etária sugerida.

Depois que o deputado publicou no Twitter que queria ver o filme censurado, o caso ganhou repercussão nas redes sociais. Queiroz propôs a campanha #foraFilmeTED e disse que acionaria "os meios legais" para "impedir que o lixo do filme infantojuvenil Ted seja exibido nacionalmente e apurar responsabilidades". No entanto, o deputado garante que não era intenção dele promover a censura do filme. "Foi uma manifestação de indignação, me surpreendi com as proporções que tomou".

No centro da polêmica está um ursinho de pelúcia que bebe, fuma maconha, participa de cenas de sexo e fala muitos palavrões. O parlamentar acredita que a classificação indicativa deveria desaconselhar o filme para menores de 18 anos. "Ted consome drogas e participa de orgias. Há cenas depreciativas em relação à mulher, envolvendo o personagem. Isso não é adequado para adolescentes, muito menos para crianças", declarou, apesar de ter levado o filho de 11 anos ao cinema.

O deputado se justificou dizendo que o material de divulgação do longa-metragem não deixa claro o conteúdo adulto do filme. "Analisei o cartaz, a sinopse e o texto não explica nada. Até incentiva crianças a assistir quando fala que o ursinho de estimação ganhou vida por um desejo que o personagem teve na infância", argumenta o deputado. Para ele, o título também deveria ser revisto por não evidenciar o comportamento "irresponsável" do personagem principal. Por isso, levou o filho ao cinema, mesmo sabendo que a classificação indicativa do filme não recomenda a exibição para menores de 16 anos. "É como se eu fosse assistir Branca de Neve e os sete anões e a Branca de Neve fosse uma prostituta."

Ao sair de uma sessão de Ted, a funcionária pública Marta de Souza, de 53 anos, ficou incomodada com a maneira como o filme mistura os universos infantil e adulto. "Você conhece algum ursinho — que é um símbolo infantil — que bebe, fuma e cheira cocaína? O filme mostra coisas ilícitas como se fossem naturais. Se soubesse, não teria visto". Reclamou.

O estudante Tiago Roberto, 26 anos, acredita que a classificação indicativa do longa-metragem deveria ser a de não recomendado para menores de 18 anos. "Pelas cenas, não é adequado para adolescentes. O urso usa drogas o tempo todo, tem cenas de sexo", pontua.

O ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, também entrou na polêmica. Disse ontem que a censura é proibida no Brasil e que não cabe ao Ministério da Justiça fazer qualquer tipo de intervenção referente à exibição de Ted. "A Constituição Federal garante a liberdade plena dos cidadãos e, portanto, não cabe ao Ministério da Justiça censurar nada. Nosso papel é apenas fazer a classificação indicativa de todo conteúdo vinculado nos cinemas e na televisão", explicou Cardozo.

"A análise sobre a indicação de idade é feita com base em critérios muito objetivos que foram discutidos com a sociedade. Há parâmetros que são analisados por técnicos competentes", explicou o ministro.

"A Constituição garante a liberdade plena dos cidadãos e, portanto, não cabe ao Ministério da Justiça censurar nada" José Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça