Título: Brics debatem crises
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2012, Mundo, p. 17

Grupo das potências emergentes, que inclui o Brasil, pede cessar-fogo bilateral na Síria e diálogo com o Irã

Plenário da Assembleia Geral, em Nova York: Brics articulam retomada de acordo nuclear negociado por Lula

Nova York — Os três principais focos de tensão internacional dominaram ontem um almoço que reuniu os chanceleres dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Os ministros deixaram em segundo plano a crise econômicas e as pressões pelo multilateralismo nas instituições decisórias para se dedicarem à grave situação da Síria, à interminável crise entre Israel e os palestinos e ao impasse em torno do programa nuclear iraniano. O grupo emitiu um comunicado no qual expressa "grande preocupação" com a escalada da violência na Síria, clama por um cessar-fogo bilateral e imediato e reitera seu apoio ao emissário da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi.

Em relação ao Irã, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, disse à imprensa que há um consenso entre os Brics segundo o qual o regime de Teerã "precisa cooperar plenamente com Agência Internacional de Energia Atômica e, assim como todas as partes do Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares, deve assumir plenamente seus compromissos", disse à imprensa o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, após o encontro. "Isso faz parte dos pontos que o Brasil costuma sublinhar. Ao mesmo tempo, há uma convergência total entre os Brics quanto à rejeição de iniciativas militares unilaterais, que seriam consideradas violatórias da carta das Nações Unidas", emendou, numa referência às ameaças de americanos e europeus de resolver o impasse pela via bélica.

A questão iraniana ocupou lugar de destaque especialmente porque ontem, ao discursar na ONU, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, acusou o Ocidente de "intimidação" e defendeu o direito do país a desenvolver a energia nuclear. O tema terminou por dominar os debates paralelos, em especial, nos Brics, articulação da qual participam Rússia e China, dois dos membros permanentes do Conselho de Segurança (os demais são EUA, França e Reino Unido). Os cinco, mais a Alemanha, formam o grupo P5+1, que negocia com Teerã uma solução para o impasse.

Acordo de Teerã A questão iraniana tomou boa parte da agenda do chanceler brasileiro em Nova York, que tratou do tema também em uma reunião bilateral com a alta representante da União Europeia (UE) para Política Externa, Catherine Ashton. Ela foi encarregada pelo P5+1 de buscar uma aproximação com o Irã e estabelecer uma relação de confiança com o governo de Ahmadinejad.

O chanceler sueco, Carl Bildt, também está entre os mais engajados na busca de uma solução negociada para a crise iraniana. Há dois dias, ele se reuniu com Patriota e com o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, para articular uma retomada do acordo selado em Teerã, em meados de 2010, pelo então presidente Lula e pelo premiê turco, Recep Tayyip Erdogan. O texto previa a suspensão do enriquecimento de urânio em território iraniano, como determinado pelo Conselho de Segurança, em troca de garantias para que o país envie o mineral em estado natural para depósito na Turquia e receba a quantidade de combustível para seus reatores de uso civil. A fórmula seguia os termos propostos pelo Ocidente meses antes, mas foi rejeitado pelos EUA, que lideraram a imposição de mais uma rodada de sanções econômicas ao Irã.