Correio braziliense, n. 20454, 22/05/2019. Política, p. 2

 

Maia rompe com líder do governo

22/05/2019

 

 

Apesar de ter conseguido acordo para a votação da Medida Provisória (MP) 870, da reforma administrativa, o governo pode ter sofrido mais um revés no relacionamento com o Legislativo. Ontem, durante reunião do colégio de líderes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou o rompimento de relações com o líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO). Em termos práticos, isso significa que a interlocução entre Executivo e Legislativo, que era ruim, poderá ficará pior e prejudicar a votação de medidas de interesse do Planalto.

A reunião do colégio de líderes, responsável por discutir a pauta da semana na Câmara, teve momentos de lavagem de roupa suja entre Maia e Vitor Hugo. O presidente da Câmara criticou a postura de confronto do presidente Jair Bolsonaro, em recado direto ao líder do governo. Questionou as manifestações convocadas por aliados do chefe do Executivo federal para o próximo domingo, atribuindo-as ao clima bélico criado pelo Planalto.

Em tom de desabafo, Maia disse aos líderes que não organizaria a pauta da semana com base nas “manifestações com viés antidemocrático”. Disse que o ambiente criado pelo governo não condiz com as discussões entre lideranças, negando que a ideia de recriação dos ministérios das Cidades e da Integração Nacional, por meio do desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional, seja uma pauta do Congresso.

Maia não escondeu o incômodo que sente diante do governo. Disse que, se o Planalto tivesse o “mínimo de organização”, a agenda governista teria avançado no Congresso. O clima esquentou e Vitor Hugo e ele bateram boca, afirmaram líderes partidários ao Correio. O líder do governo na Câmara acusou Maia de ter evitado dialogar e construir um relacionamento com ele desde o início da atual legislatura. Reclamou que o presidente da Câmara sempre o ouvia por último, depois de outras lideranças, e disse que Maia não pode determinar quem entra ou não nas reuniões da residência oficial da Presidência da Casa.

Antes de encerrar a reunião, Maia revelou mágoas passadas em relação a Vitor Hugo. Reclamou de críticas que o líder do governo fez a correligionários há cerca de dois meses, quando compartilhou mensagens alusivas a negociações entre Executivo e Legislativo. Em uma delas, reproduziu uma charge que ironizava o diálogo da ex-presidente Dilma Rousseff com congressistas, sugerindo que a petista levava ao Congresso um pacote de cargos em troca de votos.

O clima esquentou a ponto de Maia dizer que tinha rompido “relações pessoais” com Vitor Hugo. A relação entre os dois nunca foi boa. “O relacionamento entre eles está rompido desde quando Bolsonaro nomeou Vitor Hugo sem ouvir os demais líderes. A relação nunca foi boa, mas a briga foi séria, e a ruptura parece que é permanente”, avaliou uma liderança partidária do Centrão. Agora, sobra ao governo a articulação feita pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ambos criticados pelo Centrão. (RC)