Correio braziliense, n. 20454, 22/05/2019. Política, p. 3

 

Bolsonaro evita se vincular a protestos

Rodolfo Costa

Leonardo Cavalcanti

22/05/2019

 

 

Poder » Presidente orienta ministros a não participarem das manifestações do próximo domingo. Segundo porta-voz, Planalto não endossa pautas radicais, como ataques ao Congresso e ao STF

O presidente Jair Bolsonaro não participará das manifestações marcadas por aliados no domingo, 26, quando correligionários, deputados e senadores do PSL irão às ruas defender o governo. O chefe do Executivo federal também orientou os ministros de Estado a não participem dos protestos. A estratégia é evitar a associação do Palácio do Planalto aos atos.

Formalmente, os movimentos que darão sustentação aos protestos, com trios e carros de som, como o Nas Ruas, em São Paulo, prestará apoio ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, e ao pacote anticrime; à Medida Provisória (MP) 870, que deve ser votada hoje; e à reforma da Previdência. Entretanto, os apoiadores mais fiéis preparam gritos de ordem em defesa enfática ao presidente. O clima despertou preocupação entre parlamentares, que temem ataques ao Congresso.

O presidente não vai endossar pautas mais radicais, como fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), que ganharam as redes sociais na última semana. “O governo é democrático e entende a cooperação dos Três Poderes para a elevação do nosso país”, destacou o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. Ele garantiu que não haverá participação do governo nos atos. “O presidente gostaria de declarar que as manifestações têm sempre caráter livre e espontâneo, especialmente essa de que estamos tratando, que deve ser pacífica, não sendo contra grupos ou instituições”, acrescentou.

A postura de Bolsonaro mostra que ele ouviu os conselheiros mais próximos. Conforme o Correio havia antecipado ontem, a equipe mais próxima atuou nos últimos dias para convencer o presidente a se manter longe das manifestações. Falta, no entanto, convencer lideranças partidárias, que fazem críticas às manifestações. Para congressistas, a postura dos filhos do presidente e de alguns dos correligionários mais próximos, como o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), que apoiam o dia de protestos, personifica o desejo do presidente. “É um tiro no pé. Quem divide não governa”, criticou um líder partidário. “O capital político de Bolsonaro está queimando a cada dia que passa”, analisou outro.

Análise

Segundo análise da Levels Inteligência em Relações Governamentais, nas redes sociais há um posicionamento favorável a Bolsonaro em 83,7% das postagens, contra 16,3%. Os números mostram uma reorganização da rede governista contra a narrativa de crise de governabilidade. Tais mensagens pró-presidente correspondiam a 18% na última sexta-feira, logo depois de Bolsonaro compartilhar um texto sobre conchavos e a impossibilidade de governar o Brasil fora dos acordos políticos.

A principal dúvida do Planalto é que, sem grupos de mobilização, como o MBL, as chances de o protesto de domingo fracassar são enormes. O trabalho da Levels revela, entretanto, que a turma pró-Bolsonaro nas redes publica sete tuítes por conta, em contraste com a oposição (dois tuítes por conta). Ainda é possível avaliar uma tag de cunho religioso, conclamando os apoiadores e rezarem por Bolsonaro. Assim, é possível avaliar que o clima de campanha, pelo menos nas redes, está de volta — o problema é apostar todas as fichas nos protestos de domingo, como querem parte dos integrantes do PSL.

A questão é que há um clima de apreensão tanto no governo como na oposição. No caso de Bolsonaro, o Planalto prevê três riscos. O primeiro é o número de pessoas ficar abaixo das expectativas, deixando o governo nas cordas. Depois, com o aumento do volume das críticas ao Centrão — mais direcionadas ao DEM —, o risco de desarranjo na base é ainda maior. Por último, as chances de um protagonismo no domingo de grupos radiciais, mais militarizados em defesa do fechamento do Congresso e do Supremo.

Da parte da oposição, o risco é que os protestos atinjam um número razoável de pessoas, fortalecendo Bolsonaro. “Na prática, ninguém está confortável, pois existe uma série de fatores que podem fortalecer ou fragilizar Bolsonaro no domingo”, disse um parlamentar do Centrão ouvido pela reportagem.

Brincadeira

Ontem pela manhã, o presidente participou de cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional no Palácio da Alvorada. A um grupo de estudantres do ensino fundamental, Bolsonaro  fez uma brincadeira com o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao dizer que ele vai depender do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) “com toda a certeza”.  A fala provocou risadas entre ministros e auxiliares que participaram do evento, antes da reunião do Conselho de Governo.

À tarde, no Palácio do Planalto, Bolsonaro participou  de ato de Consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria. A cerimônia foi idealizada pelo deputado Eros Biondini (PROS-MG), com participação da Congregação Mariana e outros grupos católicos.

Frase

“O presidente gostaria de declarar que as manifestações têm sempre caráter livre e espontâneo, especialmente essa de que estamos tratando, que deve ser pacífica, não sendo contra grupos ou instituições”

Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência

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PSL libera a bancada para participar

Luiz Calcagno

Marina Torres

22/05/2019

 

 

As lideranças do Partido Social Liberal (PSL) decidiram liberar os parlamentares para participar dos atos a favor do governo Bolsonaro no próximo domingo, mas evitaram dar apoio institucional ao evento. A decisão foi tomada em reunião com membros do partido na tarde de ontem. De acordo com o presidente da legenda, Luciano Bivar, o partido apoia o movimento em prol das “pautas do Brasil”. Tanto Bivar quanto o senador Major Olímpio, líder do PSL no Senado, disseram que marcariam presença nas ruas.

“O PSL apoia qualquer movimento em defesa do presidente. Esse movimento não partiu do PSL, é espontâneo, mas liberamos todos os nossos parlamentares para participar. Nós estamos com o presidente da República e só temos de ficar felizes com a manifestação”, afirmou Bivar, que horas antes havia se declarado contrário aos protestos, mas mudou de ideia. Bivar ressaltou que a maior parte de bancada foi favorável à manifestação.

Após a reunião, o senador Major Olímpio disse que o partido está preocupado com a “mudança de posicionamento de aliados de última hora”. “Eu espero que a população mobilizada provoque uma retomada de pautas e compromissos de muitos parlamentares”, alfinetou. “Alguns pseudo-aliados têm comemorado reveses ou derrotas (no Congresso). Essas derrotas são do país”, disse.

Questionado sobre a possibilidade de um movimento fraco nas ruas enfraquecer o presidente, ele negou. “O movimento não é do Jair Bolsonaro, não é do PSL. É da população. Se tiver 10 mil na Avenida Paulista é um bom resultado? Ou 100 mil? Não tenho preocupação em relação a isso.Quantas vezes eu puder ir às ruas em apoio ao presidente, eu irei. Não me interessa se vão 10 pessoas, 100 mil ou 1 milhão.”